Hora de agirem após presenciarem o que de mais amplo a inércia pode causar

Alguma sorte guardava os campo-grandenses dos perigos dos córregos que atravessam a capital, permitindo normalmente aos que resvalavam para os leitos ferimentos leves e danos materiais veiculares. Duas mulheres e um homem, porém, não gozaram deste livramento na madrugada do recente dia 13, concretizando desnecessariamente o que passou-se com eles perfeita certeza ao que de pior pedestres e condutores de veículos ficam vulneráveis devido à ingerência pública no tocante à segurança dos cursos d'água urbanos.

Trata-se do lamentável fim que tiveram as vidas de Margareth Delmondes (44 anos), Geiziléia de Moraes Afonso (33) e Juliano Rosa Xavier (35), ocupantes de um carro que a nenhum deles pertencia – embora Juliano o estivesse guiando após um amigo cedê-lo – que se precipitou num córrego da avenida Ernesto Geisel, em trecho próximo ao ginásio esportivo Guanandizão. O enredo caminhou até este ponto menosprezando eventuais sonhos das vítimas e o papel que desempenhavam na vida de outros indivíduos (familiares e amigos). O destaque vai para o que se pode esperar na jornada de um filho presidiário de Margareth a partir de quando estiver sabendo da tragédia, combinado isso ao funcionamento do sistema penitenciário nacional sob uma falida dinâmica, pouco capaz de remodelar a bons padrões o caminho de quem escolhera portar-se erroneamente na sociedade.

Para o terrível saldo explicação há em dois fatores e possivelmente em um terceiro. Este faz referência à garrafa de cerveja achada no carro, que por si não esclarece, nem na base de delação premiada, quem ingeriu seu conteúdo, lançando dúvidas em torno da hipótese de embriaguez do motorista apesar de relatos de seu duro relacionamento com o álcool iniciado após o término de um matrimônio. Mas com o horrendo fim do percurso de retorno de uma festa em celebração ao aniversário de uma tia de Juliano tem tudo a ver o intervalo de tempo entre o acidente e sua descoberta por quem reportou o sinistro às autoridades policiais e o pessoal de salvamento (cerca de 3 e 8 horas da manhã, respectivamente). Tendo ou não o envolvimento destes aspectos juntos, a ocorrência não seria a mesma sem o mais importante dos elementos, a desimpedida comunicação entre a pista da avenida e as águas do córrego beneficiado pela qual o carro terminou de rodas para o ar no leito depois de capotar arrancando uma placa sinalizadora.

Em tripla dimensão deu sinais de existir e por efeito ser necessários apenas os estímulos para seu acionamento a mais excpecional e temível reviravolta capaz de afetar as vidas humanas que transitam por trechos de vias contíguas aos escoadouros naturais de água. O correr do tempo a partir do nascimento de Campo Grande foi preenchido no tocante a tal assunto por uma estagnação na fidelidade especialmente dos administradores municipais à progressão cabível à gerência do tema. Como hoje a pressão do asfalto, das construções (residenciais e laborais, públicas e privadas) e do trânsito adjacentes sobre os córregos não era inicialmente. Ao avesso, a soma dos legados das equipes governamentais (tanto o Executivo como o Legislativo e os demais servidores, não eleitos) por cujas mãos passou a Cidade Morena não dispõe de esforços progressivos e duradouros com a finalidade de proteger diretamente os receptáculos hídricos da queda acidental de pessoas e veículos e do muito facilitado descarte de lixos nos leitos, que pode se tornar hábito a ponto de nossa capital passar a ter seu(s) Tietê(s).

Ainda que tendo alcançado uma incomum magnitude, o caso não está muito distante cronologicamente de uma tragédia de modestas proporções suficientes para despertar, apesar de, a partir daí, tardia, a consciência da Prefeitura, Câmara e secretarias municipais. O falecimento de uma adolescente no início de 2015 após a moto em que estava com o namorado (que anteriormente estaria "empinando" o veículo) cair em um trecho de curso d'água na mesma avenida do recente desastre esgotou com a tolerabilidade ética a que tinha certo direito a desatenção pública quanto à importância de cercamentos protetivos em torno das margens dos córregos. O fresco triplo homicídio com dolo eventual por parte dos representantes populares ainda mais incumbe a nós (campo-grandenses e pessoas de outros lugares que estejam cientes do descaso) a procura por informações a respeito de como se desdobrou a licitação de março prevendo o implante de guard rails à beira dos córregos e a exigência de correções no modo de os governantes acolherem a demanda.

Vindouros guardiães da ordem desta capital, a chance é de vocês! Havendo entre eles gente melhor capaz de enxergar o significado de suas atitudes pelos mesmos olhos que o povo a quem se destinam, tais pessoas hão de ser prioridade na escolha para parcerias junto ao restante da comunidade objetivando reconfigurar em um sentido evolutivo o pensamento e as atitudes gerais no serviço público!

(Referências:
http://www.midiamax.com.br/policia/amigas-vao-ate-delegacia-identificam-terceira-vitima-acidente-corrego-322136

http://www.midiamax.com.br/policia/carro-amigo-motorista-saia-festa-familiar-caiu-corrego-322124

http://m.correiodoestado.com.br/cidades/campo-grande/dono-emprestou-carro-que-caiu-em-corrego-e-buscas-sao-encerradas/291174/

http://www.topmidianews.com.br/cidade-morena/prefeitura-abre-certames-para-obras-de-drenagem-e-pavimentacao-asfalti/45113/

http://correiodoestado.com.br/cidades/campo-grande/prefeitura-lanca-licitacao-para-asfalto-de-tres-regioes-e-compra-de/274369/

http://www.oestadoonline.com.br/2015/01/victoria-era-extrovertida-e-tinha-o-sonho-de-se-tornar-dentista/

http://topmidianews.com.br/cidades/hobby-de-jovem-tira-vida-de-adolescente-apos-manobra-radical/22702/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_de_Campo_Grande)

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