Por pouco não teve golpe. De que vale, então, o contragolpe?

Há algumas décadas atrás, golpes de Estado marcaram a história da Turquia. Era para ser mais um a agitação ocorrida no país especialmente a 15 de julho. Muito da energia com que se processava o distúrbio provinha de quem traçou seu fim fazendo um desvio do "script" seguido pelas ocasiões similares antecedentes. Pelas ruas o povo saiu e sua força física fez perecer o plano de uma parte das Forças Armadas desviada do compromisso com o governo e a sociedade, objetivando retirar do poder o presidente Recep Tayyip Erdogan. Englobando tanto o lado militar quanto o civil, centenas de pessoas tombaram sem vida e milhares feriram-se em degladiações entre opostas visões da partilha dos poderes sobre as demandas comuns entre governados. Os milhares de encarceramentos e outras retaliações promovidos daquela época em diante contra suspeitos de apoio aos perpetradores dos distúrbios públicos expõe a quilometragem que ainda cabe aos turcos seguir na estrada com direção a uma plena democracia que o chefe do Executivo e seus parceiros defendem com uma pobre interpretação de seu significado.

Sob a autoridade da experiência histórica é regra o vínculo entre o emprego total da força física e bélica por grupos insatisfeitos com um sistema sociopolítico, em detrimento às alianças com o povo em favor de providências ordeiras, para destituí-lo e a manutenção das condutas arbitrárias, após subirem ao pódio, na hora de encarar os clamores gerais, podendo mostrar-se mesmo piores que os antecessores e, que assim, o verdadeiro objetivo da ocupação dos assentos governamentais era o usufruto das benesses de mais difícil alcance para quem não entra no jogo político. E quando o foco de rebeldia emana de um setor desviante das forças muito bem armadas pelo governo com intuito de repelir ameaças mais complexas e de generalizado impacto à segurança e soberania nacionais, aumenta a extensão do mau prognóstico sobre o seu sucesso devido ao rigor previsível para as arbitrariedades a se abaterem sobre os cidadãos. Por terem conseguido afastar um imediato sombrio futuro, os militares fiéis ao bem comum e os turcos não fardados que se lançaram nas batalhas com a mesma bravura valiosa na hora das lutas cidadãs cotidianas merecem espaço de destaque na história.

Os mártires e semimártires (sobreviventes) têm sua valia especificada pela configuração de suas atitudes exemplares naquela amostra de tempo como só um dentre tantos sucedentes passos rumo a um governo e sociedade com recíproco zelo por suas necessidades. Apenas terminando antes do esperado pelos golpistas com as pretensões destes de tomar o controle do status quo público sem serem chamados pela comunidade e, como direito cultivado por estas circunstâncias, mudá-lo à revelia dos clamores do povo, a peleja dos apoiadores de Erdogan ou da liberdade política que o elegera não proverá frutos por si só, havendo o que se fazer para o mandatário do Executivo dosar o uso de seus poderes segundo seu prazo de validade e outras características limitadoras.

Enquanto o mundo começava a despencar em solo turco há um mês, o clérigo islâmico e escritor Fethullah Gülen, a quem os interessados no golpe seguiam em vínculo com a "Organização Terrorista Fethullahista" (de sigla FETÖ em turco), estava em sua casa em Saylorsborg, na Pelsilvânia, Estados Unidos. Quando daquele instante, ele exibia a jornalistas que o visitaram uma saúde orgânica e psíquica em condições não mais vantajosas que as da harmonia coletiva em seu país natal, em cuja cobertura os veículos noticiosos turcos mantêm-se. Tendo as manifestações de repúdio à tentativa de golpe ultrapassado os limites da Turquia atingindo justo o território nacional que abriga o presumido cabeça da rebelião com pequenos protestos logo perto de sua casa, dispõe-se para o governo americano mais uma desafiadora conjuntura em torno da qual começam a orbitar com desavenças os interesses do seleto grupo sob cujas mãos está a grande potência e os de um povo e seus administradores com disparidades políticas e culturais. Com o suposto aumento da hostilidade pelos EUA entre a população turca se faz a importância de contatos entre representantes do governo norte-americano e da Turquia na busca pelo entendimento do valor tido pelo direito ao poder público do último Estado de ter a alcance o alegado infrator e de quão a presença do mesmo pode ter proveito mediante sua penalização.

Quem sabe a posse de Gülen nas mãos das autoridades seja um freio conformista no clima de caça às bruxas instaurado na Turquia! Assim a declinada estabilidade nacional é vista pelo presidente da Associação dos Juízes e Procuradores (de sigla YARSAV em turco) Murat Arslan, seguindo em paralelo o rastro de repressão que a cúpula de Erdogan deixa em setores como o Poder Judiciário, as Forças Armadas da Turquia (embora nelas a limpeza tenha atingido autênticas sujeiras na sua imagem), ou TSK, a educação e a mídia.

Pela grande monta de escolas, universidades, jornais, revistas, editoras e empresas de TV fechadas, mesma sanção reservada ao YARSAV, e professores que tiveram invalidadas as regulamentações de suas carreiras e militares que perderam seus postos, assim como aconteceu ao antigo cargo de Arslan no Tribunal de Contas, edifica-se o saldo menos positivo do que estimam as forças erdoganistas do governo para a demais célere limpeza ideológica em que prosseguirão por este mês e os dois posteriores. Prazo esse de Estado de Emergência que no fim de julho o presidente instituiu após acertos com os conselhos de Ministros e de Segurança Nacional.

Nos circuitos militar e educacional estaria a porção do Estado fiel à presidência atingindo mais alvos com autêntico vínculo aos exemplos cuja propagação entre os turcos pretende evitar, uma vez que a estas áreas compete arraigar os valores de respeito e solidariedade esperados para crescerem e firmarem-se no conjunto social. Em direção à capacidade de cumprimento incondicional dos deveres pelos membros do grupo onde teve hipocentro o motim começa a se encaminhar a atenção de seus gerentes, desejável de se manifestar eficientemente para estabelecer obstáculos difíceis de serem transpostos pelos integrantes subversivos pretensos a criar uma autoridade paralela nociva à ordem nas forças de defesa e ao bem comum. Muitos professores cuja licença para lecionar fora impugnada podem ter dado motivo para tal, caso estivessem planejando a doutrinação dos discentes sob sua responsabilidade com ideologias que lhes permitam negar o respeito às necessidades elementares de seus semelhantes.

Já em "bom" tamanho a base aliada de Erdogan vem determinando a carga pelos turcos de fardos repressivos enchidos pela inabilidade em restringir a aplicação de medidas para barrar a emergência de uma ordem política ainda menos legítima apenas conforme atinjam quem de fato mereça. Assim como o tênue espaço cronológico, insuficiente para análises justas dos casos, entre a tentativa de golpe e a compilação dos números de professores a serem impedidos de trabalhar e instituições pedagógicas condenadas a fechamento também ocorrido em corporações midiáticas e na YARSAV apontam o sentido de liberdade e democracia para Erdogan e o tipo de subordinação imposta pelo mesmo ao povo com suposta base nesses valores, o que garantirá que os "expurgos" nas Forças Armadas estejam alvejando somente o seu conjunto humano cuja substituição vai acarretar gastos proveitosos?

E agora que aos setores do governo turco estritamente ligados a seu chefe suprimiram a independência até da Justiça que lhes poderia cortar as asas, quanto de esperança útil resta à oposição? Nem para o período eleitoral se pode descartar inteiramente uma repetição na categoria de métodos, embora possm variar segundo esse contexto, de que Erdogan possa fazer uso demonstrando possível maior entusiasmo pelo poder após ganhar prestígios compassivos na sequência de um bando de inegáveis adversários da ordem pública quase lhe usurparem o "trono". Uma vez que a radicalização oficial pode se acentuar se os grupos políticos de sadia oposição e o povo não expresarem os transtornos que vêm com os itens autoritários das providências antigolpe, é momento de, sem que os detentores do poder percebam, unirem-se a fim de definir estratégias sábias para retirar do pódio estas forças mandantes restringindo-lhes gradualmente as capacidades até relembrarem que ascenderam graças à população autorizada a periodicamente escolher e mudar representantes à medida que talvez forem aptos para atuar segundo as características da ordem social e financeira de cada época.

(Reprodução:
http://www.douradosnews.com.br/noticias/cidades/por-pouco-nao-teve-golpe-de-que-vale-entao-o-contragolpe

Referências:
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http://archive.is/SPxkp

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