Outro preço que os pecuaristas não querem embutir na carne

Quem à mesa leva a carne de animais abatidos em Curuçá, na Bahia, está agregando valor maior que o merecido a uma atividade cujos lucros vêm à revelia da responsabilidade ecológica e mesmo da com a saúde dos consumidores, vista a situação dos matadouros operantes na cidade. Foi esse o foco de uma audiência pública no dia 23 entre vereadores e representantes de orgãos municipais e estaduais voltados à saúde, setor agropecuário e meio ambiente e de um matadouro externo àqueles limites urbanos. Um trampolim para retornos mais abundantes é a forma em que a iniciativa privada idealiza o litígio, não havendo simetria, contudo, entre seus objetivos e o vigor socioeconômico da região.

O vigor do município na pecuária caprina é um de seus atributos geradores de sustância cuja inteireza se vulnerabiliza a danos punitivos em parte aceitáveis na presença de concomitante lado ébrio da moeda, de papel nas implicâncias à sanidade do ambiente e de grupos humanos, ambos podendo não se restringir aos contornos curuçaenses. Orientando-se pela responsabilidade do rio São Francisco por certa beneficência da falha ordem socioeconômica das terras nordestinas que o rodeiam dá para delinear mais nitidamente o modo em que os cerca de três matadouros da cidade (incluindo talvez o público) têm a propensão de intervir (se ainda não o tiverem fazendo) no regime hidrológico do "Nilo brasileiro". Da realidade não se situa longe o manejo dos resíduos laborais em agroindústrias onde sequer o esquema produtivo antes de tudo embasa-se nos protocolos sanitários exigidos pelas autoridades que em nome deles pode conceber rígidas penas aos responsáveis, panorama atestado em slide a contragosto apreciado pelos participantes da audiência.

A reunião culminou em desigual repartimento entre os presentes sob as duas propostas de solução ao dilema que brotaram do evento. A maioria faz força intelectual interessando-se em metamorfoseá-la em novo abatedouro a ter as mãos da prefeitura na construção e gerência. E sinaliza vitória sua e dos interesses predominantes na cidade sobre a ideia suportada apenas pelo representante de um matadouro de Juazeiro, cidade vizinha, e um da ADAB (Agência de Defesa Agropecuária da Bahia) consistindo em dispor os produtores rurais e os marchantes (que negociam carne) aos esmeros dos aparatos econômicos privados.

Saúde, saneamento básico, ensino, confecção segundo o que for bom para maior contingente possível da sociedade e garantia de eficaz observância às leis, imprescindíveis à ordem comum, e controle dos setores econômicos intimamente a ela relacionados (obtenção e distribuição de combustíveis e energia e o setor imbiliário) são de ao menos obrigatório envolvimento direto do Estado, integrando o mínimo contestável por meios sóbrios em sua essência. Mas nos restantes nichos agitadores de capital – onde há mais propícia (e onde é até mais benéfica) liberdade dos investidores em traçar as qualidades do que fabricam e/ou concedem aos clientes em troca de pagamento segundo os gostos dos fregueses que se deseja alcançar e determinar quanto devem ter (conseguindo preferencialmente na base de labuta digna, distinção que não pode haver no acesso aos serviços fundamentais mencionados antes) em dinheiro para tornar-se proprietário final, consumidor – com plena importância encaixam-se a aparelhagem e recursos humanos de governos apenas na vigilância ao respeito pelos sistemas fabril-comerciais à dignidade dos proletários, clientes e natureza.

Essa flexibilidade econômica, porém, não tem como decorrer sobre pista irregular. Em territórios onde perdura a indisposição dos governantes em ajudar os setores menos favorecidas da população a avançarem pela rampa da qualidade de vida, elencada política somaria dedos para cutucar sem progressos a ferida.

As inoperâncias nos estabelecimentos frigoríficos motivadoras da reunião têm uma idade que indica o quanto aquém do momento em que começou ser necessário ocorreu o evento. O mandato do prefeito Carlinhos Brandão contou com honrosa cerimônia que do fim aproxima o trajeto de costas para os cidadãos muito alongado por antecessores da recusa na supervisão sanitária dos negócios e em aprimorar as estruturas pertinentes à economia buscando facilitar a lida dos produtores rurais e marchantes com os preços impostos pelos abatedouros das cidades vizinhas, por exemplo.

Vem no TAC (Termo de Ajuste de Conduta) com o Ministério público sugerido em reunião seguinte à audiência entre os compartes e o gestor municipal na prefeitura a esperança de que a situação mude progredindo. Ao ser levantada nova sede do matadouro municipal, nas condições que fizerem parte do acordo por concordância unânime ou majoritária, planos a fim de otimizar o potencial rentável no campo pecuário ganham superior chance de respaldo regional em acompanhamento à melhora da consciência ecológico-sanitária. Embora sobre o empreendimento pareça haver projeções de por si só aplacar em boa dose os entraves ao desempenho da atividade, capacitações e outras assistências a que é interessante o acesso dos trabalhadores também farão a diferença para eles no remodelado ambiente, assim como têm por qualidade de isca a ser usada para futuramente se atrair investimentos privados no setor, beneficiando-o com mais independência. Bendita seja a vontade do presente gestor do Executivo, caso queira se reeleger, e/ou dos próximos a ocupar sua cadeira, bem como a sabedoria do eleitorado!

(Conteúdos que basearam este artigo:
http://acaopopular.net/jornal/situacao-dos-matadouros-de-curaca-e-tema-de-audiencia-publica/

http://boletimcuraca.blogspot.com.br/2016/05/situacao-dos-matadouros-de-curaca-e.html)

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