PT e aliados restantes na corda bamba, sem antigo grande protetor

O partido que lidera o governo federal, de tão mergulhado em escândalos de condutas políticas desonestas, teria sujeira de sobra para enodoar quem com ele anda. Por esse motivo, dubitavelmente coligado à luta pelos interesses coletivos inerente à existência de qualquer partido, desprendera-se o PMDB da corrente {1}{2} a 29 de março. Tempo não houve para Dilma e companhia, por exemplo, ir atrás dos partidos menores para preencher o rombo do gigante em virtude do qual ficavam em últimos planos {3}, com o impulso ao processo de impeachment contra Dilma dado na Câmara Federal pelo deputado goiano Jovair Arantes (PTB) {4}.

Passado um tempo em que o país produzia bens trilhando um caminho com eventuais pedras cuja superação exigia no mínimo que se erguesse o pé, um obstáculo em assombroso tamanho e massa nele aterrissou com arrasador impacto. E coincidentemente foi rompida uma trégua que já ultrapassava duas décadas em desafios envolvendo a destituição de um chefe de Estado antes do prazo para cumprir todo o mandato diretamente concebido pela ação popular.

Os dois itens caminham aliados, de modo a estar no segundo a via para as próximas etapas através das quais são contornáveis os problemas a que o primeiro faz referência. Procedimentos visando acesso a créditos públicos em inobservância às diretrizes da lei ("pedaladas fiscais") por ela são ilegalizados. Quando do evidenciamento de que os pertences monetários da Petrobras, um sustentáculo da força econômica brasileira, eram cronicamente corrompidos por elementos internos ao ofício administrativo e parceiros, em 2014, Dilma traíra a maioria que optou por mantê-la no poder para dar seguimento aos êxitos sociais obtidos pelo antecessor Lula e também deu essa conta a quem tão democraticamente votou em outras opções, visto que a realidade exibe um retrocesso na capacidade produtiva e aquisitiva onde houve avanços com as providências inclusivas sustentado pela afinidade entre os impactos dos desvios fiscais e a fragilidade do sistema não vista durante gestões federais anteriores que às manobras recorreram sem este rebuliço causar.

Mais uma votação, prevista para atravessar o fim de semana, no plenário da Câmara dos Deputados, esboçando as virtudes exigidas aos desejantes de ocupar aquelas cadeiras, bastará à condução do processo de impeachment, se a maioria de novo aprovar, a seu decisor final, o Senado. A pauta subiu os degraus da discussão, entre a sexta e o sábato, e votação, nesta segunda-feira, pela Casa, onde foi aprovada, com insuficiente suporte racional. Ausente no inquérito para torná-lo mais compreensível por todos os participantes o ligamento entre os "jeitinhos brasileiros" a que Dilma recorrera no manejo orçamentário e a agravante instabilidade com origem na petroleira e suspeita de participação da ré, deram o ar da graça as palavras de ordem, piadas e insultos trocados entre parlamentares favoráveis e contrários à retirada da presidenta {5}{6} para sustentar cada grupo suas posições.

Saído o impeachment de Dilma, ainda faltará a ser enfrentado outro labirinto, no que a sucessão presidencial também se caracteriza. A falta de indivíduos e partidos alternativos nos pleitos devido às próprias características de nossa estrutura política criticadas por Roberto Barroso, um ministro do STF {7}{8}, é o que vem fazendo a máquina se mover assim. O PMDB é um grupo a menos nas parcerias com a chefa de Estado, não tendo com certeza abdicado do quanto colabora junto a outros partidos no equilíbrio de ordem política nacional admissora predominante da dependência a financiadores por quem quiser entrar na ciranda, uma porta esquecida aberta que favorece a entrada e fuga com volumes no mínimo questionáveis nos bolsos.

O esquema pode adquirir dinâmica mais deletéria com cisões internas neste organismo figurante entre seus alimentadores relatadas pela deputada governista Jandira Feghali (PCdoB-RJ) {9} e pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação peemedebista Celso Pansera {10}. Descrito pela parlamentar como "esvaziado" no tocante ao grau de influência dos participantes dentro e fora do PMDB, o encontro em que se acertou seu desembarque do governo levou todo o conjunto por este caminho aos comandos de seres não íntimos com a parafernália da liderança. A oposição manifesta contra o impedimento de Dilma pela maioria dos deputados do PMDB e seus membros notáveis ausentes na reunião e a resistência de seis ministros a ter de escolher por seus cargos ou a sobrevida na legenda criam um volumoso subgrupo a previsivelmente divergir da minoritária aglomeração sobre a maneira de interagir com os opositores, a dinastia petista e os governos que podem sucedê-la cedo ou tarde.

Encarnando a comandante nacional e suposta e consequentemente das operações políticas irregulares (seja por possíveis em atos ilícitos de seu partido e aliados e/ou não se impondo firmemente a congêneres atividades de opositores), Dilma não tem seu nome como único a ser gritado após a palavra "fora" nas mobilizações populares anticorrupção ao ar livre que de um lugar para outro onde acontecem unem-se numa corrente de cidadania que imobiliza o Brasil em datas pré-marcadas. Independendo a coisa de bandeira política, os olhos dos membros devem ficar abertos para a existência de gente traiçoeira até vestindo a causa do impeachment da presidente em nome da moralização política, fator que concilia relativa celebrável legalidade ao processo, de um lado, e em contrapartida mostra o esforço ainda esperando ser feito por eleitores e a parte isenta da Justiça a fim de concluir a limpeza.

(Reprodução no Dourados News)

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