Guerra molhada

O atípico aquecimento do planeta devido aos excessos humanos deixa por poucos fios a disponibilidade de água a esta mais predadora espécie e às inocentes, podendo no futuro seu valor (incluindo o monetário) superar o do petróleo e virar ela combustível para guerras com o previsível envolvimento das grandes potências mundiais. Grandes dimensões são quase certas para os eventuais conflitos motivados por decréscimo no volume de água potável, superando muito as contendas políticas entre Bolívia e Chile embasadas por suas divergências quanto à localização geográfica supostamente transfronteiriça do rio Silala e, assim, o direito a seu uso por cada reclamante.

Antes, entre 1908 e 1996 {1}, os dois países tiravam harmônico proveito do rio através de uma empresa ferroviária cuja nacionalidade a ambos remonta consentida pelo governo do departamento boliviano de Potosí. Por sua causa agora fluem os humores dos peixes engravatados das nações com mais brutal força.

Alternativas para mexer fisicamente nas fronteiras desejando cada lado valer-se mais do corpo hídrico que o outro não há nos atuais tempos de paz internacional predominante graças às normas neste caráter de abrangência. Na determinação teórica – cartográfica – das características da área é que Chile e Bolívia estariam se amparando no intuito de fazer o jogo de cabo de guerra.

O já descrito ano até o qual sobrevivia desimpedido o recolhimento do conteúdo líquido do Silala pela dipátria companhia férrea iniciou-a na rota da exigência de alternativas após seus maquinistas bolivianos ter excedido em seu poder de atuação junto aos chilenos suspendendo a autorização de mais longa vigência prevista. Seguiram desse marco temporal em diante os encarregados de deveres geográficos do país hoje presidido por Evo Morales retirando-se dos estudos até então bilaterais feitos junto a seus equivalentes geridos agora por Michelle Bachelet a fim de sanar a questão e alterando mapas a seu próprio conjunto de critérios. Atitudes com tradicional cara de erro, ultrapassagem espertalhona, no entanto passíveis de conseguirem alguma legalidade se constituírem reação à suspeita inexistência, no modo como é descrito, sustentando o pleito, do corpo d'água por causa do qual há tempestade {2}.

A queixa contra o Chile por ter atribuído o caráter de rio ao curso hídrico transfronteiriço que não passava de um manancial em mapas a partir de 1904, quando as fronteiras entre ele e a Bolívia foram definidas, pode a Morales conceber a vitória se incluídas as provas disso na bagagem do pedido de interferência ao tribunal internacional de Haia {3}. O envolvimento na confusão de países cuja presença na política e economia mundiais a nenhum dá privilégios em relação ao outro destes órgãos torna livre de impedimentos o caminho para que a corte holandesa averigue o papel dos dois governos no litígio e busque indenizações e/ou penalidades aos envolvidos seguindo a medida dos ganhos que a empresa de trens tinha retirando a água do "rio" e as hipotéticas dificuldades impostas por este uso aos habitantes humanos ou não a sua volta.

Desavenças envolvendo água e política não costumam ensopar os grandalhões que se encaram. O tempo passa e a ausência de mais ousadia no abandono de comodismos pelos regentes e regidos para corrigir suas responsabilidades no uso do ouro incolor pouco a nós distancia de futuro em que sequer respingos poderão sair em meio à troca de farpas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Omissões que soterraram vidas e sonhos

Justiça de novo em busca de garantias de retidão

A solidez do inédito nível de apoio que Lula recebeu para voltar aonde já esteve