Negligência tratada independentemente de seu rótulo

A polícia, a Justiça e os encarregados do abastecimento de água e da coleta e tratamento de esgotos em Praha, capital da República Tcheca, têm parentesco por seus trabalhos estarem sob controle do Estado, que dispõe aos cidadãos os frutos. A relação não interferiu, porém, nos cinco anos de cadeia que as duas primeiras determinaram a trabalhadores de saneamento que, após em maio de 2015 privarem moradores dos bairros Dejvice e Bubenec de utilizar a água encanada por corriqueiras razões técnicas, a reestabeleceram em condições adversas que agrediram à saúde de vários membros das comunidades graças a inoperâncias que introduziram resíduos de esgoto ao sistema potável {1}{2}{3}. O constante alcance de resultados ao menos beirando isso por operadores de serviços essenciais pouco atentos às normas dos processos em si ou bastidores dá fortíssimo valor à prática por aqui de repressão com força similar à reservada para qualquer indivíduo físico ou jurídico infiel à lei, ressaltando-se, no entanto, o provável empenho conjunto de problemas históricos nos eventos ocorridos no país de onde vem o exemplo, havendo em consertá-los outra matéria com a qual os homens públicos de lá lecionariam aos nossos sobre responsabilidade.

O espaço temporal entre 24 e 28 de maio do último completo ano encerrou o significado para volumoso conjunto popular nos dois bairros, mais de quatro mil ocupantes, de ter um serviço auxiliar importante (e logo um dos mais) a menos nos deveres domésticos ou no trabalho, custo não monetário da deterioração em sua qualidade. E a colossal massa impactada possui entre seus constituintes 33 que, possivelmente não sabendo de antemão do mau estado da água, utilizaram-na e foram hospitalizadas devido a problemas intestinais, expressão ao resto do grupo, que o alertava, de porque o recurso se tornara insalubre.

Pela dor de barriga (não só a física) ao usufruírem dos serviços de cujo sustento com certeza (pagando algum tipo de conta, embora podendo haver diferenças no modo de controle pelo governo tcheco) participa esta gente não esperava, ainda mais em virtude do nível econômico e social do país – superior ao nosso – ser em tese um campo onde poucas situações assim germinam. Indicando os hotéis onde existe o luxo de ver o sol nascer quadrado como transitório destino para dois funcionários da empresa Pražské Vodovody a Kanalizace (PVK), responsável por distribuir água, recolher e tratar resíduos na capital e arredores, em proporção análoga à do panorama caótico em que se desdobraram suas falhas, a polícia do território soberano eslavo fez-se mensageira da máquina pública da qual é uma peça a informar de que lado o conjunto está e a classe de parceiros que espera a fim de continuar assim posicionado.

As prisões, resultantes de maratona investigativa corrente desde os iniciais tempos subsequentes à ocorrência objeto das análises, parecem ainda não ter ido além dos papéis. Monitorar os condenados no intuito de não permití-los escapar à sua vista é agora a tarefa dos setores policial e judiciário até que determinem pra valer os aprisionamentos. Neste implícito pedido de calma aos tchecos no aguardo pelo fim da novela é crível haver movimentações da defesa para tornar impunes os envolvidos (prática costumeira no Brasil), por qual razão estaria a pena sendo revista a fim de, por exemplo, checar o papel dos responsáveis por equipar e treinar os profissionais nos eventos, havendo chances de a bronca não se concentrar sobre a dupla..

As circunstâncias trabalhistas manifestas a relativamente curto prazo anterior àquelas problemáticas operações do sistema podem não monopolizar as interferências que geraram os transtornos depois de os funcionários recorrerem a incautas estratégias de manejo da rede de água potável que nela permitiram entrar materiais de esgoto servíveis de meio de cultura para micro-organismos nocivos à saúde humana e ambiental. Menos propensão fatos assim teriam de ocorrer sem erros no ordenamento das tubulações, sobre o qual dispõe uma norma determinando que os canos de esgoto fiquem sob as de água encanada enquanto a realidade as mostrava em posição contrária desde os anos 60.

Conhecendo o contexto histórico que a região atravessava em dada época, fica viável desvendar o porque de as coisas estarem como estão. Naqueles tempos, quem mandava na República Tcheca (então unida à Eslováquia, resultando na Tchecoslováquia) era uma estrutura política comunista que era um tentáculo da União Soviética. Sobre um regime político-econômico que onde brotaram suas primeiras mudas e foram as sementes dispersas subtraiu a liberdade dos povos e as vidas de quem tentava mudar isso, não é sintoma de estar em outro planeta discorrer levantando a hipótese de os manda-chuvas vermelhos contrariarem a vontade do povo em aspectos que pouco interessam aos historiadores, como se terá feito ao definir a ordem dos terminais para a circulação de água e esgoto. Tudo isso compondo as marcas de um conjunto de ideais autoapresentado como amigo do povo, na verdade uma isca desenvolvida e empregada por uma burguesia mais esperta no aliciamento das massas com destino à escravidão.

A solução para que caminha o episódio de imprudência em atividade essencial para o bem comum na República Tcheca é o tipo de atitudes que, se tomadas por aqui, mostrariam o quanto fazem falta. Não se restringindo aos fatos semelhantes aos de Praha acontecidos em agosto do último ano em Cuiabá, capital matogrossense (quando crianças e seus pais que celebraram um aniversário em um buffet infantil e habitantes das redondezas passaram mal após ingerir água com falhas na higiene {4}), costumam produzir-se testes não intencionais por irresponsáveis gerentes públicos à capacidade de os usuários-mantenedores resistirem mental e fisiologicamente ao foco dos senhores nos ganhos em espécie sem ligar para o quanto merecem-nos em relação à qualidade dos ofícios, valendo mencionar os buracos nas vias de Campo Grande (aqui no vizinho Do Sul) dos quais um provocou a queda mortal de um motociclista no recente 17 de janeiro {5}.

Distinções existem nos círculos de atuação definidos a cada organismo componente do Estado, um todo que estabelece os limites das vontades e atos individuais e grupais em benefício às carências básicas do coletivo em geral. Quando, porém, indivíduos ou conjuntos, exercendo atividades num setor, colocam interesses acessórios acima do que é necessário evitar para que não haja impacto em outra área mais valiosa, o compromisso das autoridades cujo trabalho é perturbado mantém o dever de falar mais alto em seus procedimentos (de forma controlada, a exibir o engajamento do reclamante no equilíbrio social) tanto como é feito a seres ou organizações de menor poderio que trazem obstáculos.

(Republublicação no WebArtigos)

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