Cadê as garantias de que vai ser assim?

Pela primeira vez é dada pena exemplar a criminosos no Brasil, em se tratando ainda de um caso de ofensa à lei por gente moldada para mostrar na prática que ela existe. É o que somos conduzidos a imaginar pela expressão oral do secretário de segurança pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, após 13 dos 25 policiais que "muito bem" deram chá de sumiço ao ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza serem execrados da Polícia Militar e receberem até 13 anos de pena reclusiva {1}{2}. Agora é ele se virar em mil para tornar isso visível ao contingente humano governado.

A sequência de graves inobservâncias vindas de membros das polícias brasileiras, com a participação reinante de grupamentos paulistas e fluminenses, teve Amarildo como mais um entre infinitos integrantes. O trabalhador na construção civil, suspeito de incrementar seus ganhos no paralelo mercado narcótico, não inaugurou as estatísticas, antecedido por alguns até piores atos policiais tirânicos, assim como está longe de fechá-las em virtude de ocorrências nesse modelo após 2013, quando cartazes indagando o paradeiro do indivíduo tomaram o Rio e o país.

Nem no exterior é segredo a primitividade que segue viva em nossas forças de segurança. Inclui-se nos conhecimentos a privilegiadora distribuição das ocorrências, os pontos do território onde se concentram e o modelo em que transcorrem.

Atravessamos momentos de contínuos passos a frente na feitura e ajustes em meios físicos e mentais para os afazeres com que cada um de nós tem específico papel no equilíbrio da atenção às necessidades individuais e coletivas. Em parte das nossas polícias não se infiltram como apropriado métodos e materiais para a captura, investigação ou apenamento de suspeitos ou acusados convictos de crimes estruturados em torno do conhecimento das muitas vezes particulares características dos autores, vítimas, locais e circunstâncias referentes à prática desviante. Continua valendo, logo, o método de abordagem segundo a generalização de estereótipos de aparências e comportamentos que a realidade nem sempre coliga, aí estando a causa de trágicos e às vezes propositais equívocos. Só no relacionamento com os gostos maleficamente reacionários de muitos oficiais e indiretos controladores seus – membros do Estado, pessoas físicas e jurídicas de grande influência econômica simpatizantes de subumanas estabilizações da estratificação social – é que práticas amparadas por esta diretriz apresentam utilidade infalível.

Homem, jovem, negro, vivendo nos pedaços urbanos menos satisfatórios à segurança e bem-estar sociais, pior ainda se em sua mais deplorável forma, as favelas. De forma mais avolumada em São Paulo e no Rio de Janeiro, a esperança de vida de muitas pessoas no tocante a sua vulnerabilidade a causas de morte evitáveis perde sua garantia de plenitude com a constância em referidos parâmetros.

Quem tem por significativo elemento de seu cotidiano as reuniões de casas, pequenos prédios e comércios humildes não raro topa com as ações policiais "protetoras" e a verdade sobre quais categorias podem reconhecê-las como tal, obtendo vantagens junto a uma parte do Estado que já preparara os terrenos suprimindo o potencial defensivo das vítimas mediante uma fraca educação cúmplice de superior força aos empregos informais, da economia criminosa e da nutrição desses grupos populares vulneráveis pela mídia mercenária com estímulos distorcidos às artes das baixas camadas, tratando-se na verdade de produtos comerciais em que se deixa fraca névoa da identidade dos conjuntos e no lugar do resto se põe conteúdo obsceno ou fútil lucrativo só aos manipuladores e mercadores. A bola da vez entre as atividades massificadas é, como vemos, o funk carioca que em suas raízes não era como a TV hoje exibe. Também adquire nulidade o peso a incidir na consciência de PMs não submetidos a abertura mental para a compaixão por toda vida humana graças ao ecoar do universalmente social princípio de bandido só ser bom quando morto, outra coisa difundida pelos veículos comunicativos de grande fama mostrando tudo o que esperam e conseguem dos pouco seletivos espectadores em paralelismo aos efeitos adversos.

Somado existe o vício do chover e não molhar, do bater sol sem esquentar, em nossos mecanismos para dar cabíveis honras a quem estremece a ordem social rompendo gravemente com seus regulamentos asseguradores. Para toda raça de barbaridades intensionais ou sem querer, mas resultando de rejeição aos protocolos que as evitariam, há sempre explicações para anistia envolvendo, mesmo de forma implícita, previsíveis ou casuais falhas na moralidade dos infratores, costumando a Justiça ceder a esse tipo de argumento dos advogados defensivos, embora haja ocorrências com evidentes abusos nos apelos. Já passaram bastantes funcionários públicos por esse túnel após darem as costas à lei, dele saindo sem arapucas que prorrogassem sua estadia e mesmo retornando a ganhar salários nossos.

A complexidade das circunstâncias elencadas é um indicativo da fria em que Beltrame se mete ao comemorar a condenação dos policiais que hostilmente agiram contra Amarildo, o que não tivera valor independendo de sua reputação. Ao encarregado governamental virão as consequências conforme a força de que dispõe para deslocar a montanha ao ponto onde a idealizou.

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