Paraíso esfumaçado, em replay

Nove meses tendo se seguido à semana gasta no passado abril para conter o dragão em que se transformara um terminal para estocagem de combustíveis no porto de Santos, a inquietação em que o desastre deixou as autoridades parece não ter despertado suficientemente a responsabilidade socioambiental nas esferas administrativas do maior embarcadouro cargueiro latinoamericano. As negligências das alas econômicas usuárias do porto que impuseram prejuízos a outros setores (turismo e pesca) não teriam até agora se feito presentes na combustão ocorrida numa parte do porto situada no Guarujá devido a seu menor tamanho {1}{2}, no qual entretanto teriam cabido suspeitas perdas mais graves, irreparáveis – vidas humanas {3}{4}. Carga escassa no imenso ponto de trocas comerciais à beira-mar é a força persuasiva das autoridades e dos gigantes econômicos mundiais que se servem da área no que tange à cautela no recebimento e despacho da variedade de mercadorias lá circulantes.

É impressão minha e de muitos moradores do litoral paulista ou estamos vendo se reerguer o Vale da Morte sobre tal área a que melhor se encaixam igualdades em relação ao Paraíso? Há mais de três décadas atrás o Brasil e importante fatia do mundo assistiam a insustentabilidade da vizinhança entre casas, territórios naturais e indústrias em Cubatão. Os cidadãos que vinham àquele hostil pedaço do mundo com órgãos cujo desenvolvimento estagnou ainda no útero ou que, escapando a esse destino, viviam abaixo do quanto tinham direito por causa de males respiratórios e a enorme cifra de mortes num incêndio causado a um bairro residencial por vazamento de combustível de uma região fabril conseguiram expressar aos governos e empresas no que se traduziam os choques entre seus interesses por lucro e o direito coletivo a segurança e bem-estar, fazendo as partes delimitarem as fronteiras entre ditas vontades.

O litígio espacial inerente àquela época tinha pouca visibilidade para os municípios vizinhos de fato à beira-mar (Guarujá, Santos e São Vicente), bastante conhecidos pelas praias que atraem turistas brasileiros e do exterior, embora seguramente cobrava em alguma intensidade seu preço aos lugares. Além de não ter posto fim absoluto ao envenenamento ambientel, os acordos intencionando mitigar o conflito não esvaíram com os moldes do mesmo, começando a ter uso pelas autoridades e setores econômicos mais próximos dos visitantes, classe mais traiçoeira de testemunhas por serem valiosos monitores graças a seus variados locais de origem e, portanto, grandes distâncias que as informações estão propensas a percorrer.

Por um dos maiores incêndios da história, no terminal de combustíveis da Ultracargo e a queima por cerca de dois dias de contêineres da empresa Localfrio com produto a base de cloro, ambos ocorridos nesta ordem no intervalo de nove meses, é fisicamente figurado o renascimento vivíparo (vindo ao mundo completamente formado, só que em miniatura) das folgas no cuidado com a natureza e as populações integrantes do ponto inicial da rota para o consumo dos produtos que desembarcam em nosso país e final dos preparativos antecedentes à expedição do que atingirá mercados distantes. E devendo gratidão à rede administrativa portuária graças à intencionalmente não superada estreiteza de sua capacidade para manter um time em número {5} e com instrução cabíveis à proteção dos diversificados estoques contra substâncias ou fenômenos incompatíveis, os eventos com suas respectivas derivações, a mortandade de peixes ecológica e financeiramente valiosos em rios resultante do primeiro e à dificuldade que o segundo proporrcionou aos viventes em torno de seu cenário {6}{7}, à qual três não teriam resistido, muito provável compuseram nesse modelo de frequência "de vez em quando" os primeiros passos à desordem em que se convertera Cubatão, talvez a única imaginável hipótese para aquela crise, embasada na constatação de que o tamanho que a ela e a fatos similares tornou famosos não poderia ter sido a medida inicial dos problemas.

Nessa imutável ideia convém se apoiar os responsáveis diretos e indiretos pela ordem no imenso espaço de fluxo cargueiro se não quiser as coisas descambando para o alertado panorama correndo o risco de interagir com o agravante fator da proximidade ao mar. Às partes do esquema que querem mostrar ter compreendido as lições vindas das falhas passadas em Cubatão fica o convite de se aliarem os representantes das grandes companhias nacionais e estrangeiras usuárias do porto participantes de benfeitorias ecológicas e sociais, mas as que comprovadamente transfiguram as experiências para a prática do mesmo modo "perfeito" como as mostram na mídia.

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