Não tinha na língua os freios que a realidade possui

Estamos todos acompanhando a novela 100% real da rigorosa anarquia que afeta o sistema público do Rio de Janeiro logo em uma de suas vitais peças, a saúde, que exige até ajuda federal. Mas não era esse o estado cujo governador prometia autossuficiência nas finanças em trecho de programa eleitoral citado em reportagem local da sucursal carioca do SBT?

Despede-se 2015 de modo ingrato aos papéis que os promotores diretos e utilizadores têm no ordenado funcionamento do sistema sob a regência pública. Médicos, enfermeiros e outros profissionais diretos e terceirizados sem pontual remuneração e à disposição para os atendimentos tendo estoques de insumos "na rapa" vêem a viabilidade do cumprimento da missão assistencial a que se entregaram reclusa nos fins secretamente idealizados por seus mandatários ao explorar valioso serviço e a mão-de-obra que o conduz. Inteligível risco de morte é o critério que mais responde pela sorte dos vencedores da corrida por vagas que permitem o aplacamento de problemas orgânicos. Achados médicos com risco de piora em sua inicial baixa complexidade ou que levam os pacientes a terrível incômodo físico e psíquico acabam por consequência sendo alvo da austeridade no uso dos recursos ainda disponíveis que inclui a redução do expediente garantido para durar junto com as dificultosamente abastecidas reservas de materiais.

O governo fluminense diagnosticou a participação causal na desordem em dois outros tipos de reservas, fontes de sustento à receita pública. A parcial corrosão estrutural financeira que sofreu a Petrobras e é um dos motivos para fenômeno similar na economia brasileira contraiu as potencialidades favoráveis ao exercício da sanha pelo petróleo típica do mercado mundial e, numa reação em cadeia, o preço do barril e os valores do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) cobrado pelo mesmo desde 2014, quando os eventos eram anunciados com quase total certeza. Voltando a não distante passado, sob que características o governador Luiz Fernando Pezão afirmava estruturar seu desempenho no campo durante a caçada a torcedores que mais tarde o puseram lá?

A observação desse aspecto já desqualifica a inteligência e a moralidade dos eleitores. O mal-estar econômico nacionalmente generalizado e a instável rentabilidade do ouro negro reconhecida por Pezão compreendem os mais perceptíveis fatores que por terra mandaram a meta. Ademais, estava mesmo em completa saúde o comandante estadual enquanto gravava a propaganda política? Comprometera-se verbalmente ele a atuar em qualquer demanda popular, não importando ser municipal, estadual ou federal, por alegadamente ser problema tanto do cidadão quanto do dito cujo. Tera talvez essa isca levado uma penca de fluminenses ao caminho de perdição. O possível defeito contido no juramento refere-se à sugestão de que a gestão violaria prováveis limites exclusivos e fixos à influência de cada uma das três esferas. Para fechar, o caos deve muito de seu tamanho ao usufruto irrestrito de cascalho no pagamento de servidores não concursados e aos R$ 660 milhões previstos para voltar ao Fundo Estadual de Saúde por conta de providências judiciais cobradas ao governo que teria canalizado o dinheiro para outros destinos, assim como já foi pedido o retorno à remuneração pontual e o encaminhamento de 12% da receita estatal para a saúde.

Mas o pior já foi garantido para abrir 2016! O não endireitamento das contas fará, se houver facilidades, todo o sistema médico fluminense parar sob comando dos próprios funcionários. E jorge Darze, presidente do sindicato estadual de médicos (SinMed-RJ), advertiu quanto à liga que as irregularidades dariam a um processo de impeachment de Pezão. Desculpe-me ele, mas arranjara momento menos conveniente para emitir o enunciado. Caso se decida em adotar o procedimento, a irmandade partidária comum ao governador do Rio e seu representante federal Eduardo Cunha (ambos a bordo do PMDB) traz o risco de sabotagem do rito pelo último, que deseja é ver Dilma caindo. Toda essa devastação foi brilhante trabalho de gente que combinou erroneamente os dígitos das urnas movida por crenças em contos de fadas políticos!

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