Lenha ainda capaz de receber mais fogo

Em shoppings centers das cidades vulneráveis ao foco da grande mídia – São Paulo, Rio e Belo Horizonte (palco de eventos precursores) –, não houve mais registro de "rolezinhos", diminuindo a situação de alerta em que se mantinham os centros comerciais perante a anarquia em que os ambientes convertiam-se durante a maioria desses passeios combinados nas redes sociais por volumosos grupos de jovens e/ou devido ao ressentimento pela democratização dos espaços antes restritos aos que teriam piscinas iguais à do Tio Patinhas. O assunto esteve entre as "bolas da vez" da imprensa em contexto temporal referente ao término de 2013 e começo de 2014, mas os encontros teriam prosseguido até agora no shopping Avenida Center, em Dourados, que trouxe de volta à superfície o assunto a nível local com seu pedido junto ao Ministério Público de reforço nas fiscalizações e outras medidas no campo da segurança pública visando controlar a circulação de adolescentes nas dependências do estabelecimento privado.

Uma marcha a ré intelectual rumo aos anteriores séculos da história do Brasil lusutanizado permite recordar medidas antepassadas destas atuais no tratamento a grupos humanos e sua cultura igualmente inferiores conforme as concepções dos ajuntamentos com tendências e privilégios de dominação sobre quem tivesse menos poder que eles. Foram alvos principais os negros e suas manifestações religiosas e culturais. Findado o regime laboral escravista, devido valor começaram a receber em luta até hoje corrente os sistemas de crenças e costumes desta comunidade étnica, embora certas vezes ecoem relatos de ultrajes.

A relativa ascensão social a que eram condicionadas muitas pessoas de baixa renda (não querendo exaltar o PT nem qualquer partido com ideologias semelhantes, pois a autodenominação igualitarista não garante por si só que uma legenda governe assim, tendo como exemplo o que próprio grupamento da estrela vermelha vem nos fazendo junto aos demais, aliados e opositores) lhes dá como prerrogativa o acesso a bens e serviços anteriormente monopolizados para as classes altas que muito a somar têm em suas vidas. Está incluído o direito de acrescentar aos shoppings o quanto puderem da essência com que teriam surgido como os conhecemos nos Estados Unidos nos anos 50, a receptividade para com todos os frequentadores devido ao início dessa forma de comércio naquele país nos subúrbios.

È previsível a fúria dos reacionários, para quem há o retorno de como tratam as diferenças socioculturais e financeiras. Circunstâncias que imputam parte da culpa às vítimas também compõem a atual problemática.

O momento em que os "rolezinhos" estavam no auge e as ocasiões antecedentes em que shoppings de Belo Horizonte (MG) e Vitória (ES) foram cenário de encontros ao modelo dos posteriores se particularizaram pelo nível das ações, não tendo se conformado os praticantes em fazer simples e ordeiros passeios, a mais adequada conotação para o termo e o objetivo que perseguiam, a superação de preconceitos. Preferiram correr, berrar, consumir álcool ou drogas ilícitas e abocanhar mercadorias, e, a partir disso, qualquer grupo de jovens, sobretudo aparentando ser menores, determinava, ao entrar nos recintos, tentativas de proteção por parte de fregueses e lojistas imaginando estar sob risco de subtração ou danos patrimoniais. Nas tentativas de trazer para nosso estado o costume, o Shopping Campo Grande se prontificou com antecedência, valendo-se da polícia, para impedir que a semente vingue por duas vezes, em janeiro de 2014 e em junho deste ano, assim como pretende o douradense Avenida Center diante de por ele e clientes alegados abusos. Percebe-se que nas reuniões faltavam atividades que demonstram a erotizaçào adiantada cada vez menos tímida. Pois então, a gama da expressões do declínio moral juvenil se completa após adolescentes (muitos ainda estreando a fase) marcarem para o passado dia 7 (não se sabe se ocorreu) "pegação" num shopping de Ipatinga (MG).

Governos e famílias que oferecem aos novos brasileiros educação ainda fraca na conscientização dos estudantes quanto à guarda dos valores morais básicos (que abrangem a todos nós, não tendo influência dos variados interesses políticos e religiosos cabíveis a nossa imensidão populacional) e a mídia que dessa deficiência obtêm ganhos preenchendo-a mediante desenvolvimento e espalhe de valores libertinos estão nada mais do que saboreando os frutos a contragosto – uso de drogas legais ou não, irresponsabilidade sexual e os destinos a que conduz (DSTs e gravidez indesejada) e consumismo momentâneo cada vez mais precoces. Estando por aí os estragos, aonde chegam seus responsáveis apenas os lamentando e não fechando a fonte que a eles continua dando sustância?

Exemplifica isso a atitude não recíproca dos extensos aglomerados mercantis. Por que não topar parceria com os moradores de locais menos favorecidos que, mesmo não tendo nem o que comer ou onde morar direito, contaminaram até seu antigo instrumento de expressão frente ao descaso – o funk, passado, nestes 30 anos, de voz destes excluídos a audiopornografia e agora contando com o subgênero "ostentação" – com os velhos e frequentes incentivos ao consumo que nada objetiva senão obter falso status financeiro?

Antes a capoeira, o maculelê, o samba, o rap. Agora o funk é o bode expiatório de quem não aceita a mutabilidade das formas culturais. Com razão em parte graças aos conteúdos que atual e majoritariamente propaga, ocorrendo isso por causa do aliciamento que sofrem seus expoentes do mercado ávido por retorno monetário a qualquer custo. Demanda, logo, melhorias na estrutura pedagógica esse novo fenômeno artístico para se fidelizar à identidade de seus adeptos, de mesma forma que os outros movimentos citados antes. Em menção a outro aspecto, realidade que justificava os "rolezinhos" numa área de Limeira, em São Paulo, constatada numa pesquisa feita por um órgão local relativo à defesa da infância e da adolescência, é parcialmente a mesma nos demais casos. Quer dizer, estaria sendo canalizada para este lado a inconformidade em financiar a construção pelo governo de áreas de lazer e na sequência vê-las em abandono!

(Outros veículo em que foi publicado este artigo são o jornal Folha de Dourados e os sites Dourados News e TNG Informa.)

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