Perigo mais próximo e real do que enxergávanos antes de tragédia

Em todo o Brasil estão presentes barragens em estado propício para ruírem, libertando dejetos minerários em áreas urbanas ou ambientais onde podem subtrair as condições favoráveis à existência destas, conforme o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral). Destas, o órgão constatou duas justo aqui no estado e em Corumbá, notável porta de acesso ao Pantanal. Adiciona-se o envolvimente de uma das mesmas grandes companhias responsáveis pela tragédia em Mariana – a Vale – na gerência da mineradora Urucum, que administra as duas instalações. Sob tal circunstância coincidente, do que mais nossas autoridades necessitam parq colocar o setor na linha enquanto é tempo?

Oito vidas foram comprovadas como tendo se esvaído sob a corrente de lama que escapou das barragens da Samarco em Mariana (MG) no dia 18 (Artigo Relacionado). É ainda um saldo incipiente, dados os quatro corpos localizados no ambiente da catástrofe e a mais de uma dezena de pessoas das quais não apareceram pistas. Às perdas se junta o sepultamento íntegro da comunidade de Bento Rodrigues, outrora ocupado por gente que convivia com patrimônio que remontava a suas origens. Sem nos esquecermos da forma que adquirirá em tempos futuros que à porta já batem o eixo socioeconômico das áreas mineiras e espírito-santenses abrangidas pelo Rio Doce, um dos maiores do sudeste brasileiro.

Corumbá é maior que Mariana em população (mais de 90 mil habitantes) e território. Também a Capital do Pantanal abriga elementos inerentes aos primórdios da cidade. Nada disso sob ameaça em caso de possível colapso das duas barragens de alto risco e outras 14 menos temidas que compõem o total conjunto das estruturas existentes em Mato Grosso do Sul. Quem está com a cabeça a poucos milímetros da lâmina da guilhotina é a maior planície alagável do planeta, de valia altamente superior que sustenta a enorme inquietação.

O bioma, não exclusivamente nosso por o dividirmos com partes de Mato Grosso, Paraguai e Bolívia (recebendo nome Chaco nos dois últimos países), proporciona a todo o sistema humano e ambiental que o circunda vantagens mediante sua diversidade de seres vivos, estruturas e fenômenos terrestres, aéreos e aquáticos por ser local de transição entre Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica. Cada um servindo a sua comunidade e influenciando beneficamente nossa vida de variados modos com suas distinções físicas e comportamentais.

Marcas catastróficas seriam deixadas no complexo natural pelo escape das impurezas através das barragens. Tudo que funciona sob as contínuas e imutáveis regras naturais sairia dos eixos por força do óbvia bagunça que as acometeriam. Em situação pouco diferente da que sofre o Rio Doce e o litoral do Espírito Santo, se iriam na turva correnteza variados exemplares de plantas e animais e partes de solo para destinos como o leito de rios. É cabível a este calamitoso cenário um desnivelamento na quantia de espécies vivas e na ocorrência de fenômenos a exemplo dos ciclos de cheia e estiagem, numa relação de mútuo entrave no papel de ambos ao invés da normal parceria entre os aspectos.

A nós estendendo-se as relações entre os componentes da natureza (em meio aos quais constamos), nos seriam igualmente descontadas as condutas destrutivas de alguns integrantes de nossa espécie. A perigo se tem o pedaço de terra mais biologicamente rico da região e, por efeito, valioso a quem estuda o lugar ou o herda de antepassados e atrai para cá visitantes daqui ou de fora (incluindo estrangeiros) que sua importante contribuição deixam à economia local. Até onde as ambições por contínua expansão patrimonial de quem toca o negócio da mineração domariam a revolta nacional e mundial contra os danos ao bioma pantaneiro?

Já provoca muito a consciência coletiva o impasse na conclusão do Aquário do Pantanal, suntuosa miniatura, em Campo Grande, de nossa maior riqueza e dos desafios que a envolvem devido a em parte intencionais desníveis em sua administração pelos governos e a iniciativa privada. Desentendimentos contratuais mediante a troca de responsáveis pela continuação da estrutura faraônica após o encontro de irregularidades em licitações descobertas sob os ventos da operação Lama Asfáltica esticam a linha do tempo das mesmas, reservando espaço tamanho família para as "adequadas" consequências, dentre as quais milhares de peixes retirados da natureza que acabaram mortos na demora e abandono do aparato físico conivente até com a entrada de ladrões. Para os exemplares animais que não se decaíram sob os maus tratos de que o Estado foi testemunha, não os repreendendo, contudo, viera uma chance de retomar sua trajetória segundo o possível com melhor assistência, a disponibilização para pesquisas visando inclusive a coleta de material genético.

O IMASUL (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) reservou o vindouro dia 7 para vistoriar as barragens, pegando a onda das cobranças feitas após a avalanche da Samarco, embora o surgimento das avarias não se tivera dado sob esse modelo oportunista. Algum plano de acompanhamento contínuo da situação, enrijecimento impessoal não preso ao papel das normas que permitem aos depósitos operar e incentivo às sondagens genéticas realizadas com os peixes a fim de fazê-los disponíveis o quanto antes possível a medidas repovoadoras de que possam vir a necessitar o Pantanal e outros conjuntos de ecossistemas em caso de anormalidades? Favor relembrarem e não se espelharem, por exemplo, na acomodação no tocante à segurança em áreas de lazer fechadas que costumam aglomerar pessoas à toa discutida e alvo de tentativas de combate no calor do incêndio na Boate Kiss, responsável por por muitos feridos até hoje com as marcas da tragédia e as 242 mortes majoritariamente imediatas mais a de uma vítima no último junho, legado que não se apagará todo, corra o tempo que correr.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Omissões que soterraram vidas e sonhos

Justiça de novo em busca de garantias de retidão

A solidez do inédito nível de apoio que Lula recebeu para voltar aonde já esteve