Pegos desprevenidos

Tendo nós sul-matogrossenses tanto acompanhado a trajetória da jornalista Priscilla Sampaio durante estes 7 anos em que se consagrou na TV Morena (após atuar na TV Campo Grande, hoje SBTMS), quem esperava o fim de sua missão, iniciado na passada segunda-feira e selado dois dias depois, há exatamente uma semana? Em sua idade (32 anos), também começava uma família, com uma boa saúde que até onde sabemos teórica e cotidianamente não permitiria a repentina infecção respiratória e renal que resultou em seu falecimento. Os clamores por um aprofundamento das estratégias de trabalho preventivo e curativo (quando o resultado que a palavra sugere é alcançável) pelos órgãos e empresas públicos, privados ou filantrópicos ligados à saúde são reforçados pela luta do corpo médico designado para cuidar de Priscila em salvá-la e as hipóteses sobre a procedência dos males que levaram a este incomum e lamentável desfecho.

Repórter, chefe de reportagem e âncora de telejornais, Priscila cruzou o caminho de, pode se dizer, toda nossa população, seja quem trabalhou com ela, participou como entrevistado ou assistiu a seu empenho na transmissão de notícias, parte do material que registra a história contemporânea de nossa gente. Antecedendo suas férias com marido e filho de 1 ano no Nordeste, esta figura informou a ocorrência de sol nos dias subsequentes e amanheceu chovendo em Campo Grande e parte do interior (incluindo Itaporã) o dia em que saiu de cena, num cenário climático arranjado aos sentimentos que as pessoas próximas a ela expressaram desde a madrugada (quando o pior se confirmara) até a tarde daquele 30 de setembro (quando se fez o sepultamento no Jardim das Palmeiras, cemitério onde ocorrera o velório), passando pelas homenagens empreendidas pelos companheiros da TV.

Não fosse a ida desta profissional que se imortaliza nas lembranças de quem a seu lado esteve no trabalho, no convívio familiar e na igreja que frequentava, a atividade dos médicos da Unimed em cima do caso seria mais aplaudida por ter inaugurado modernas tecnologias para este estado trazidas a fim de melhorar a oxigenação no organismo da paciente, em ponto crítico devido ao progressivo comprometimento dos pulmões, que nas menos de 48 horas também tomou conta dos rins. Do mesmo jeito que Priscila, caso cujo agravante era o risco de grande lesão moral ao plano de saúde se os médicos não tivessem dado o seu melhor na luta para salvar a jornalista, membro do staff da mais bem estruturada televisão de MS, todos os clientes são humanos, possuidores de sentimentos e valiosos a seus familiares e amigos antes de qualquer outra coisa, ideia a que é indispensável aderir a empresa expandindo o acesso aos mais modernos recursos a todos os beneficiários em contextos similarmente delicados. Uma vez objetivando ser alternativa à saúde pública (para onde se deseja a expansão dos procedimentos mais prestativos futuramente), isso não sairá das planilhas físicas e mentais de quem gere este sistema de saúde suplementar enquanto o mesmo ainda perdurar em significantes posições nos rankings de empresas alvo de queixas!

O que inutilizou todos os indícios de esforço dos médicos não foi nada mais que a por enquanto não totalmente explicada natureza do quadro clínico e sua veloz evolução. As equipes que efetuaram a assistência médica e as que, após o final trágico da história, foram designadas para desvendá-lo tiveram ínfimo suporte dos conhecimentos e recursos voltados às doenças de maior enfoque social, como dengue e gripe "suína" H1N1, ambas comprovadamente desvinculadas a estes fatos e substituídas por hipóteses menos ou quase nunca abordadas nas escolas e nas campanhas de saúde pública e fortalecidas pela anterior presença da comunicadora em lugares diferentes sob condições sanitárias duvidosas. Quem de vocês já ouviu falar, por exemplo, no hantavírus, transmitido pelo contato com fezes de ratos silvestres? Não terá sido a estreia da doença por aqui, visto que em 2012 faleceu um jovem de Porto Murtinho que também se acreditava estar com dengue ou H1N1. Outras enfermidades pouco assistidas, estas cada vez mais preocupantes, porém não constando nas teorias acerca da morte de Priscilla, são as transmitidas por dejetos fisiológicos de pombos, das quais uma causou a morte de um morador aqui de Itaporã em março deste ano e quase levou a esse resultado há algum tempo um cidadão do Paraná diagnosticado inicialmente até com… AIDS!

Aprofundar-se na compreensão e contorno dos mais diversos agravos a nosso bem-estar é vital, ainda mais por nunca ter sido tão fácil em nossa história. À medida que se esvaem as distâncias tecnológicas e, em resposta, mais sabedoria nos é trazida sobre qualquer assunto, nos inconformamos com os infortúnios que por nada seguem esse caminho em razão de isso também não acontecer ao desprezo, pelas organizações públicas, privadas ou filantrópicas dos rumos a passíveis de ser alcançados por suas tarefas com o bom proveito das inovações.

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