A dupla identidade de um país quase vizinho

O Chile vem se apresentando como um Japão e uma cópia do Brasil na sequência do terremoto que sacudiu sua capital, Santiago, e a região do Norte Chico (em cuja parte litorânea ainda houve tsunâmi) no dia 16. A preparação dos chilenos essas ocasiões de emergência não deixou que as turbulências geológicas, embora medissem 8,4 graus na escala Richter, causassem tanto destroço, ficando reduzido a 15 o número de mortos. E o governo, até onde consegue suportar os tremores reflexos da queda de satisfação popular advinda de escândalos que não deixaram de repercutir nem na hora da catástrofe?

Nepal, no último 25 de abril, Japão, em 11 de março de 2011, o próprio Chile e o Haiti em 2010 (respectivamente em 27 de fevereiro e 12 de janeiro), já foram gato e sapato sob o poder das forças tectônicas, que nestes episódios, com leves oscilações na intensidade, efetivaram mais seu instinto destruidor e assassino. O abalo que nem um mês completou ainda, por tão forte que fora quanto os antecessores, encontrou terrível resistência das construções e a capacidade do povo de se proteger, impondo humilhante abatimento nos resultados posteriores.

Dá gosto um governo que percebe sinceramente onde errou e transmite esse recado por meio de decisões práticas intencionadas em prevenir erros na lida com situações desse porte e, assim, abafar o quanto puder seus efeitos! A Michelle Bachelet, em início de mandato presidencial em 2010, cabem honras por usufruir logo de nascente oportunidade para comandar reformas nas regras arquitetônicas e na grade curricular educacional, resultando em habitantes educados desde a infância sobre como agir e para onde ir em casos de inquietação sísmica (até foram determinados os lugares para acolhê-los muito antes dos fenômenos, item no qual o Japão terá falhado em 2011 e sido um pouco ultrapassado pelo Chile na competência para o resguardo de vidas e bens) e disponde de residências e locais para estudo e trabalho em sua maioria erguidas com materiais e sob diretrizes que lhes tornem menos lesivas as agitações geológicas, tal como termina ocorrendo com as pessoas. Nesse ponto a oposição (especialmente seus membros com maior interferência emocional que racional na capacidade argumentativa) tem voz fraca e o país, força superior aos de toda a Latinoamérica na adaptação a esses infortúnios.

Exceto um estorvo ao progresso socioeconômico que ainda perdura com descomunal força no continente todo e boa parte do globo, os desvios morais em parte da trupe política. Nunca existirá algo perfeito mesmo!

O fanatismo esportivo não mais abrange somente o futebol, tampouco é exclusivo das camadas populares. Representante federal de Coquimbo, capital da província de Elqui e localidade mais arruinada pelo cataclismo, o deputado Jorge Pizarro, optou por seguir um caminho que surpreendeu a população devido à corrente impropriedade do contexto para isso. Conforme seus defensores, é muito comprometido com seus deveres e produtivo nelas. Esse reconhecimento é compatível com os tempos anteriores, nos quais não teriam acontecido partidas de rugby, modalidade que já praticou profissionalmente. Uma das dispersas ocasiões em que o esporte é praticado frente a torcedores, num torneio logo mundial em Londres, foi uma tentação que de bandeja desfocou e tirou Pizarro de seus afazeres bem naquela hora em que nasciam as preocupações envolvendo os impactos da tragédia a longo prazo, evidentes por serem reflexo, entre outros itens, dos danos a postos de trabalho, como o porto em cuja ampliação se investia milhões de dólares. Está liberado para os chilenos este exemplo egocentrista? O ministro do interior Jorge Burgos e o ex-deputado Gutenberg Martínez não pensaram no que estiveram introduzindo na consciência coletiva e será absorvido pelas mentes malandras ao mencionar o entusiasmo do amigo pelo rugby como legítimo argumento defensivo. É o universo do lucro fácil e despreocupado com seus impactos não parando de inovar!

Chile e Brasil se alinham enfrentando terríveis experiências frente à ocupação feminina do mais alto cargo estatal. Dilma Rousseff e Michelle Bachelet despencam em queda livre quanto à popularidade, empurradas pelos governados, segundo constatam pesquisas em cada um dos países. Em pleno fim do mês passado, pouco após o grande tremor e enquanto ocorriam suas réplicas, desdobravam-se as investigações do Caso Caval, esquema que daria a uma empresa operante na saúde pude pública direitos a que outras não teriam acesso por estar ligada a pessoas entre as quais suspeita-se estar Sebastian Dávalos, filho de Bachelet, esta já possuidora de histórico político pouco confiável. Por aqui pagamos a Copa e o que foi roubado da Petrobras de uma forma tão intensa que isso parece ter se iniciado de surpresa e sentindo os impactos como a dor da retirada brusca de um curativo. Pouco cautelosas no tocante a suas atitudes e a quem designam para ajudá-las a governar, as presidentes entregam as capacidades de sua categoria às presas destrutivas do pensamento machista adotado por seres que manifestam frustração por não estarem eles valendo-se do status para benefício próprio em vez de fazer a diferença.

O Chile é sem dúvida uma potência sociopolítica na lida com estas situações delicadas e suspeito de compartilhar os altos posicionamentos em demais setores com a Argentina, ambos em melhor estado no continente todo quanto à gratidão dos governos para com quem os eleva e mantém no poder. Enquanto isso o talvez único ranking relevante de cujo topo o Brasil é dono é o de reciclagem de recipientes vazios de agrotóxicos. A irregularmente seguida receita para chegar, em outras áreas, com tais provas de excelência, requer de todo governo foco na consideração dos impactos dos projetos abandonando preocupações que apenmbitam ao redor dos conjuntos humanos atrelados aos líderes.

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