Proibido para menores, mas também só no papel

Apanhar em flagrante motoristas doidos para voar nas vias de tráfego coletivo tanto faz parte da rotina dos órgãos de policiamento que nem se espantam com os riscos individuais e coletivos aos quais os infratores dão carona. A isso são externos os (não tão) menos frequentes encontros com menores agindo dessa e de muito mais outras formas. Ao encontrarem um carro espatifado em frente a uma árvore (até sem o motor, que foi parar há vários metros à frente) e o motorista de 14 anos e uma passageira de 15 feridos (e ao lado de fora) durante a manhã do dia 6 em trecho da BR-285 próximo a Muitos Capoes, no Rio Grande do Sul, após o abordarem "no maior pau" e terem sua providência ignorada, agentes da Polícia Rodoviária Federal se deram conta da maior combinação entre o fim e os meios pelos quais foi involuntariamente atingido.

A infância e a fase adulta são conectadas pela adolescência, ponte cujas condições interferem na travessia para o inevitável destino, efeito similar quanto ao modo com que o ponto de partida fira moldado. É um meio termo, onde começa os vínculos com as dependências e independências (parte que mais interessa à maioria dos caminhantes) típicas da integral maturidade. Vão ficando escassos os jovens de primeira viagem que escolhem adiar essas experiências ou vivenciá-las moderadamente e orientados por adultos aptos para isso (grupo composto pelos jovens oriundos de famílias seguidoras de correntes religiosas rígidas ou os do tipo nerd ou CDF, que anseiam tornar melhor o mundo com suas ideias e capacidades excepcionais, camada que integro orgulhosamente). Na massa infanto-juvenil restante cresce a cifra de membros degenerados física, mental e moralmente ao lidar de má forma com temas como sexualidade, dedicação aos estudos, drogas e o manejo de veículos. E os inconvenientes frutos da exposição dos menores às influências em nível superior a seu preparo físico e intelectual não se direcionam só à leva de adultos irresponsáveis que os cultivou!

Os primeiros influenciadores em que se pensa são os "amigos" e a mídia. Sem dar chances de marchas a ré e paradas buscando a revisão de atitudes, o tempo eterniza entre muitas pessoas e seus conviventes as marcas físicas, psíquicas e sociais da não previamente avaliada escolha por dar atenção a propostas errôneas de lazer partidas de más companhias, tanto estas por si só como o mau uso de conteúdo emitido pelos meios de comunicação (sobretudo a internet). O manuseio de veículos automotores é uma das práticas clandestinamente ensinadas para menores por seres que assim pisoteiam a lei e demonstram desmerecer as habilitações alcançadas mediante alinhamento à mesma, ou de certo modo em acordo com as autoridades, através dos vários tutoriais e vídeos na internet ensinando a dirigir, bom complemento para o aprendizado de quem está em processo de obtenção da CNH.

Além do estágio inicial de amadurecimento, a difusão dos irregulares princípios de conduta ganha terreno na vida de muitos menores com a inoperância de quem deveria impedí-la de vingar. Tanto nos é mostrado, quer na mídia, quer em nossas vivências cotidianas, a respeito das novas tendências de comportamento mais libertárias e seus benefícios e males que é perda inestimável seu não aproveitamento por quem tem a guarda dos que necessitam dessas lições e pelos governos quando não ajudam sob medida o pessoal inabilitado para isso por motivos especiais legítimos, a desestrutura familiar. O encaixe dos adolescentes que terminaram sua viagem louca no hospital Nossa Senhora da Oliveira, em Vacaria, é quase total certeza e abre o leque de horrendas hipóteses sobre o que fizeram e onde estiveram anteriormente. E quando há entre os parentes quem transmita o tipo de influência elencado no outro parágrafo, nada mais resta para compor a "máquina mortífera"! Eis um exemplo, o caso de uma garota de 19 anos que, a 7 de junho, tirou sua vida e a de seu irmão de 14 ao dar-lhe o comando de seu carro, no qual seguiam pela BR-476 até de frente baterem noutro veículo perto de Contenda, no Paraná.

Em síntese, nossos caminhos nunca estiveram tão perigosos antes desse adiantamento na faixa etária dos sujeitos capazes de ameaçar nossas vidas, mas os característicos privilégios afastam essa experiência do cotidiano dos governantes responsáveis por um sistema que impõe corretos limites ao acesso dos menores a determinados produtos e serviços (por exemplo, as bebidas, a direção de veículos e mais recentemente aqui em Mato Grosso do Sul o narguilé, "cachimbo d'água", segundo lei que esbarra em já existentes princípios do ECA) e penas aos adultos que favorecerem-no sem impregnar na mente dos protegidos pela norma e da sociedade toda o valor das ações. O vínculo de nosso futuro às crianças e adolescentes penaliza as expectativas desta árvore conforme o atual estado de suas raízes.

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