Jogo sujo e malcheiroso

Desapontamentos com o desempenho de redes de esgoto interligam parte das populações de Campo Grande e da paulista São José do Rio Pardo. Colocados numa balança, o Jardim Noroeste, na metrópole e centro principalmente político sul-matogrossense, e o bairro Buenos Aires, fariam-na em equilíbrio se a medisada de massa basear-se nisso, pois em ambos a situação literalmente está longe de cheirar bem há 10 e 12 anos, respectivamente, devido a sobrecargas nos aparatos que os atendem (no primeiro caso, a estação de tratamento de um presídio estadual e, no outro, uma que se presta a mais bairros do que deveria, 10 em vez de 3).

Existem os beneficiados pelo incompleto cumprimento das funções destes estabelecimentos públicos. Apenas os seres repugnantes atraídos biologicamente pela podridão (ratos, insetos e micróbios), como muitos terão raciocinado! A estes são dispensados de ajudar na sustentação financeira dos bens, enquanto a população, mantenedora dos recursos junto ao governo e para quem foram destinados, absorve a cada vez que as coisas pioram a ideia de render-se aos invasores abandonando os locais, num modelo idêntico a comunidades nativas americanas (dentre eles nossos índios), asiáticas, africanas e da Oceania e pequenas ilhas, estas duas últimas menos lembradas, sob o poderio dos colonos europeus. Nos exemplos mencionados isso é expresso por declarações da comerciante riopardense Lílian Zeferino, que afirma pretender mudar-se numa entrevista à EPTV (correspondente da Globo na região de São Carlos e Araraquara, que inclui a cidade) participante de uma reportagem da emissora sobre o descaso, mais ou menos o que ocorreu em matéria do mesmo tema do SBT MS, que apresenta entre os entrevistados o investidor imobiliário José Carlos de Moraes, com dificuldades para vender lotes.

Os registros jornalísticos, porém, não apontam a nociva e incômoda partilha dos ambientes residenciais, de trabalho e lazer com os forasteiros como a tônica da oposição popular às imperfeições. O foco dela são os maus odores em si. É cabível uma rendição ao entendimento dos traços que o ininterrupto convívio com eles imprime à rotina dos grupos humanos fixados nas proximidades, sendo mais indigestos nos momentos de refeições ou recepção de visitantes. Há no relato jornalístico de Campo Grande um chamado à briga para indivíduos e entidades ambientalistas mostrando a porcaria escorrendo para uma mata provavelmente nativa, em cujo solo se acumula e forma uma crosta verde, e com acesso a um córrego.

Estamos na expectativa de que, imediatamente a partir destas semanas sucedentes à exposição dos fatos pela EPTV, haja final entendimento pela Prefeitura de São José do Rio Pardo da responsabilidade que acabam de arranjar após declarações, à TV, do secretário municipal Cristiano Varella sinalizando medidas pretendentes de findar com o problema, dentre elas a substituição de uma bomba d'água queimada causadora dos fétidos vazamentos em poucos dias. A probabilidade de outras providências definitivas exigirem mais do bolso do povo em razão de, ainda segundo Cristiano, os valores tributários atuais não encherem os cofres públicos como antes, é perdoável quando se contrasta com o nulo efeito das queixas populares, ora as feitas diretamente junto à Prefeitura e à concessionária Águas Guariroba, de nossa capital, ora o acionamento do SBT MS por alguns dos moradores, sobre as competências da empresa, da Prefeitura e do governo sul-matogrossense (administrador da penitenciária) no zelo pela central tratadora de resíduos. É um abacaxi de casca concretada pelas omissões dos referidos organismos. Mas como é possível esperar contribuições dos ditos cujos quando as coisas complicam desde o centro do impasse, as responsabilidades de cada um, formalmente negadas por todos?

Governos pouco disciplinados no acompanhamento da demanda popular nos serviços que administram para a idealização e prática de melhorias mais encaixadas aos contextos atuais são outro nível, capazes de feutos incríveis, caindo bem na lista o descontrole na lida com literais, mas não inéditas sujeiras de produção insistida pelo contingente prisional. Os vínculos entre o Poder Público destes municípios brasileiros e da Argentina em matéria de saneamento básico vão além da adoção do nome da capital hermana num bairro de um deles face à relativamente igual inconsistência no gerenciamento de redes hídricas e residuárias por nossos vizinhos. Qual a fórmula portenha para a cobertura de mais de 90% da população nestes setores e o alcance de um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) acima de 0,800 (quando é considerado muito alto, como nos países desenvolvidos) sem ao menos ter dados disponíveis acerca de certas despesas?

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