Bandidos cada vez mais brasileiros

Nem eles ficam de fora da ideia de sermos gente que não desiste nunca, tanto é que nisso avançam cada vez mais – ascensão até maior que a da maioria honesta, que procura sustentar-se em atividades com igual caráter – quanto à pretensão de fazer sempre trabalhos completos, sobretudo na categoria dos homicidas. Falhas em assassinatos não costumam desanimar os autores e/ou mandantes, inclusive acirrando os anseios revanchistas, o que por vezes instiga o aperfeiçoamento das estratégias para "solucionar o problema", daí certas ocorrências em que marginais não esperam nem a pessoa indesejada recuperar-se de antecedentes agressões para acertar as contas, momento em geral de sucesso para eles. Só que as invasões a hospitais e a passagem pelas averiguações que permitem (ou não) visitas aos pacientes começam a dar sinais de estarem se tornando antiquadas. Que tal ser mais adiantado?

Desde 2014 ocorreram casos de iniciais vítimas de tentativa de homicídio que acabam sendo de vez mortas durante o deslocamento a bordo de ambulâncias para suporte médico por seres que fugiram, não havendo informações no tocante a seu paradeiro.. O último fato dessa estirpe passou-se no dia 10 do mês anterior em Macaé, no litoral do Rio de Janeiro, quando homens armados interceptaram uma ambulância na porta da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro Lagomar, de onde removeram Adriano Monteiro Paes, de 30 anos, que tratava as sequelas de um espancamento, e lhe aplicaram uma saraivada de balas. Ainda neste ano, em fevereiro, Wellington Henrique Maciel, de 20 anos, alvo de tiros em sua casa em Comodoro, no Mato Grosso, recebeu outros, agora fatais, de bandidos que pararam o veículo no qual era conduzido a Cáceres e dele o haviam arrancado. No último ano, mais dois crimes empregando essa tática. Em 29 de novembro foi a vez do metalúrgico Romilson Soares da Silva, 26 anos, morador de Canhotinho, Pernambuco, baleado em casa e depois numa viatura do SAMU no percurso para Recife, próximo à cidade de Lajedo. Um mês antes, no dia 8, meliantes pararam uma ambulância que levava Marcos Aurélio Vasconcelos Ávila, 49 anos a uma clínica em Caraguatatuba (São Paulo) e adicionaram ao seu corpo disparos complementares aos ferimentos contraídos em um tiroteio.

Uma vida na qual a tudo que é desejado se pode ter acesso de forma instantânea, quase que pela força mental, é o que muitos ambicionam a fim de escapar à nula gratidão de parte das alas políticas pela honestidade do sustento que recebem dos eleitores. Justo desta isca o submundo do banditismo, apontando a sabedoria de quem o governa, se apodera para fisgar e trazer para seu barco muita gente com as bases morais falhas ou em desenvolvimento, grupo de pessoas do qual os membros nas primeiras décadas de vida são os prediletos dos "caça-talentos".

Nada mais que o começo de uma seguinte etapa, a inserção nesta comunidade socioeconômica avessa às normas da sociedade e do Estado é sucedida pelas lutas dos integrantes entre si e contra os inimigos externos (as duas instituições mencionadas antes), com causa os choques entre os interesses dos combatentes em ampliar seu poderio, previsíveis dada sua comum grandiosidade. Tão imaginável – desta vez óbvio – é o recurso a mecanismos de enfrentamento irracionais, desmedidos e contráriadores dos princípios de ordem pública, valendo a concessão de vitória aos mais fortes após (em diversos casos literalmente) massacrar os incapazes.

Dois dos episódios de abordagens contra ambulâncias visando eliminar os pacientes tiveram comprovada integração a esse jogo por não suas vítimas não serem santas, pois os homes aniquilados em Macaé e Caraguatatuba eram figurinhas repetidas nos álbuns da polícia, o primeiro por furtos e o segundo justamente por atuar no mais disputado setor do mundo criminoso, o tráfico de drogas, muito provável motivo para os demais assassinatos – diagnóstico difícil por falta de dados capazes de embasá-lo refletida por presumiveis deficiências no progresso das ações investigatórias, reparando-se os mesmos profissionalismo, determinação e cuidado (exceto na fato de Comodoro, em que uma enfermeira levou um tiro no braço) dos atiradores. Eis aí mais uma implicância ao regular desempenho dos deveres cabidos aos que atuam na assistência ao transporte de quem merece cuidados físicos maiores (motoristas, médicos, maqueiros e enfermeiros), começando a emergir na consciência coletivacoletiva as noções dos especiais riscos trazidos pelo atendimento a certos enfermos em razão das circunstâncias que os encaminharam ao serviço.

Como tão grande vem se tornando o espectro de alvos dos grupos sociais que renegam as mais importantes determinações à ordem no convívio coletivo! É de arrepiar mesmo! Os decorridos meses estão sediando um princípio de expansão aos convocados para socorrer e reabilitar quem sofre danos físicos nos combates das intimidações associáveis à rotina de quem se oferece a seu estancamento, não sendo fictícias as probabilidades de ocorrerem situações que nivelem os primeiros (profissionais da saúde) em relação aos últimos (as forças policiais) no quesito das ameaças a que podem susceptibilizar-se como retaliação pelo exercício desse papel frente às metas expansionistas da indústria criminosa se não houver maior cautela na obtenção, posse e manuseio de dados referentes no trato a indivíduos nesse contexto, de maneira que as informações fiquem sob acesso apenas de gente próxima dos atendidos e confiável.

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