Um privilégio sem sentido prático

Qual é a explicação para a contrariedade entre os dados conseguidos pela Pesquisa Nacional de Saúde, do IBGE, que aponta nosso estado, dentre outras coisas, como líder na adesão de motociclistas ao capacete (95,5%) e medalha de prata no uso do cinto de segurança em carros (82,9%), e a prática, na qual e costumeiro presenciar acidentes, muitos com sérias consequências e afetando justo os usuários de motos?

Convenhamos considerar a possibilidade de alinhamento dos resultados da pesquisa relativos ao número de acidentes registrados desde o ano anterior, embora nosso percentual (3,4%) esteja na oitava colocação, encabeçada por Roraima, com 8,7% de seus habitantes com envolvimento nas ocorrências. Nos mais de 2 milhões que somos essa porcentagem, correspondente a dezenas ou centenas de milhares de vítimas, uma vez aue seu impacto social e financeiro público é sabido de cor por todos nós (cidadãos comuns, autoridades e jornalistas).

Como já dito, o capacete não está resguardando seus utilizadores da entrada para as estatísticas da segurança rodoviária, sem majoritariamente ter a culpa em razão por lhe serem atribuídas através da frouxidão comportamental de usuários e motoristas que cruzam os caminhos deles responsabilidades protetivas maiores que os limites determinados em sua confecção. Em que bases podem se firmar expectativas e exigências de proteção integral pelo capacete a praticantes do deslocamento em alta velocidade e da "costura" entre os carros? Ressaltemos ainda que o uso do acessório é apenas a ponta do iceberg nos cuidados durante o tráfego com esse tipo de veículo por causa do grande risco que resta sobre õrgãos vitais não situados na cabeça, como pulmões, coração, artérias, veias e a parte neurológica da coluna cervical.

Para completar sua bagagem de rivalidades com os veículos de quatro ou mais rodas – excetuando os momentos em que os grandalhões justificam a valentia com o porte físico –, os pilotos de motos tomaram por pouco dos adversários, desta vez de forma honesta, a liderança nos rankings de obediência às normas de trânsito, apesar de serem mais vulneráveis aos acidentes por darem prioridade a uma só. Teriam expresso a verdade observada sem muito esforço em nossas ruas, avenidas e rodovias, havendo praticamente total zelo na utilização do capacete, ao passo que o quase alcance da liderança na preocupação com o cinto pode ser visto com reservas porque, creio eu que principalmente nas áreas urbanas aqui no interior (por causa ds baixa rigidez nas fiscalizações de tráfego, ao contrário de como se lida com isso nas grandes estradas e em nossos centros político-econômicos – Campo Grande, Dourados, Três Lagoas, Corumbá e Ponta Porã), por sua grande parte ter dito "sim" ao equipamento em vão, ignorando sua serventia no cotidiano prático sob o apoio da estrutura fechada de suas conduções, muitas vezes funcional protetora no escape à lei, papel em que costuma deixá-los na mão durante os acidentes em circunstâncias similares aos casos que envolvem motociclistas.

A escolha destes modos de participação nesta corrida diária ao cumprimento cada vez mais exigente quanto ao tempo dos deveres sociais delegados a todos os membros dos dois grupos mais os pedestres, rivais que compartilham, é retrato do quão cheio de obstáculos está o desenvolvimento nos participantes da mesma da consciência no tocante a sua real e diferenciada finalidade – premiar todos ao cgegarem a estes objetivos, independentemente da ordem em conseguurem isso – em relação aos campeonatos tradicionais de automobilismo, atletismo e motovelocidade, também incomparáveis a este jeito em que funciona o trânsito por terem regras claras para o alcance da linha de chegada. Vias públicas, como já sugere o nome, têm sua utilidade no tráfego compartilhado – e não disputado – de quem as usa como recompensa do Estado por auxiliarem-no a mantê-las, podendo esta ideia fazer-se real se nos refletirmos de jeito mais humanizado para aprofundar nossa compreensão da igualdade de importância entre nosso direito de ir e vir sem ou com poucos incômodos e do dever de garantí-los a nossos semelhantes e os governos cumprirem com sua parte aumentando a presença desses assuntos nos currículos educacionais a fim de começar desde cedo com o cultivo de mentes esclarecidas, estendendo os trabalhos fiscalizadores para al além das grandes vias urbanas e estradas e procurando reduzir a necessidade do uso dos carros através da adaptação de espaços e equipamentos urbanos aos incentivos para o uso dos transportes coletivos e alternativos.

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