Fuga por caminho sem volta

Dando de cara com inalteráveis indícios de que a casa vai cair, a fuga – quando possível – é é a estratégia mais adotada por criminosos, embora não sejam raros os que decidem arcar com a bronca perante as autoridades. Também nada escasso é o histórico de êxitos na adesão à primeira tática, permitindo aos adeptos do crime escapar às penas ou abrandá-las, benefício possível com a expiração do flagrante. Andrey Hernandes, 32 anos, cidadão paraguaio de contraditória dupla personalidade – fazendo parte, em nosso território, do mercado criminoso, contra o qual lutava em prol da sociedade em seu país, atuando como policial –, e seus camaradas, um rapaz de 19 anos e outro de 26, tiveram de arcar com os efeitos negativos de terem optado pelo narcotráfico na ocasião em que as polícias de Três Lagoas, aqui no estado (de onde saíram em dois carros com mais de 660 kg de maconha), e de Presidente Epitácio, no interior paulista (por onde seguiam a fim de despistar os "homens" da primeira cidade), estavam prestes a interceptá-los, na tarde do primeiro dia deste mês. Até este ponto a descrição caracteriza mais uma perseguição policial com fim idêntico, a prisão dos fugitivos, que de fato ocorreu com os dois indivíduos (reencaminhados a Três Lagoas), após o incomum desfecho de que Andrey foi vítima, morrendo em um hospital epitaciano para onde fora levado ao jogar-se de um veículo em funcionamento.

Não foram levantadas informações acerca da vida pessoal e familiar do indivíduo que teve sua jornada tristemente interrompida, mas a muito existente relação entre idade e constituição da família eleva a probabilidade de Andrey ter deixado a seus conviventes, sobretudo possíveis filhos e caso parte dos ganhos com o negócio sujo fosse remetida ao participante e tais pessoas, esse exemplo de meio para "subir na vida" fundada em ao mssmo tempo induzir a queda daqueles a que se endereçava no fim de tudo o material transportado e de quem vive com os tais indivíduos.

Mais nociva esta maléfica influência se torna atingindo os órgãos policiais paraguaios e não se contentando com suas fronteiras, uma vez que se estende à sociedade toda naquele país e nas terras a ele vizinhas (incluindo o Brasil), onde também há focos deste problema disciplinar. De maneira explícita ou sem notar, os bandidos - seja os iniciantes pé de chinelo ou os experts – muitas vezes têm aliados entre os "porcos", "gambés", "vermes" e outros termos em vasta quantia ofensivos à corporação que enfrentam rotineiramente, levando a resultados fatais nos dois lados e incluindo até inocentes. Que desrespeitoso é aos membros da instituição fiéis a seus deveresdeveres presenciar os esforços para um bom atendimento e o cultivo de relações de respeito e confiança das comunidades tendo os potenciais para desenvolver os gratificantes efeitos previstos enfraquecidos ou incapacitados de desenvolver-se defronte a barreiras provindas de incertas condutas relativas a pretensões externas de outros "irmãos" de farda, um peso somado às cotidianas omissões de seus superiores quanto a remuneração, estrutura de trabalho e não escapando disso em certos casos justamente a aplicação de processos punitivos a estes maus elementos, realidades que os bons polciais tentam amenizar a fim de amortecer os impactos repassados à sociedade, buscando demonstrar aos governos a importância do correta lida com os clamores, e de bastante desejada ausência nos motivos para os atos e metas dos frutos podres que povoam a árvore!

Em conjuntura com as negativas influências este caso por sorte teve desfecho cabível ao ponto onde chegará quem se render às ilusórias promessas de lucro fácil e rápido em atividades criminosas, não interferindo nos efeitos o prazo em que se manifestarão. É sabida a situação em que operam a maioria de nossas unidades prisionais, opondo-se totalmente ao propósito que as originou, podendo os comparsas de Andrey manter os negócios sem grandes mudanças e adquirirem instrução para ampliar o profissionalismo com graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado em delitos mais dignificadores, como assassinato. Nem tudo, porém, está perdido por existir uma segunda via de responsabilização dos indivíduos por suas escolhas, a postura de suas vidas na mira dos mais diversos riscos, capazes de destruí-las valendo-se de infinitos métodos, dentre eles rixas, tiroteios com a polícia ou rivaisrivais diversos outros, até incomuns, a exemplo da estratégia de fuga escolhida pelo meliante-policial paraguaio, tomado provavelmente por essas liçôes que absorvera muito tarde e contaminado pela ficção hollywoodiana, onde as fugas de bandidos acabam do feito que ele imaginava em consequência dos rigoros e seguros ensaios para os quais recruta-se dublês – especialistas em desafiar o perigo – no lugar dos atores titulares.

Nem é preciso lançar mão de raciocínios longos e amplos para imaginar a diferença no curso das vidas de Andrey e outras tantas pessoas caso fizessem as boas escolhas, não necessariamente lutando por sonhos muito grandiosos e mesmo com a incompleta qualidade do tratamento dirigido aos trabalhadores honestos pelos governantes. Igualmente nessa parte nem tudo se encontra perdido, não havendo justificativas para ficarmos de braços cruzados na base do testemunho e lamentação dos destinos concebidos aos errantes graças às nossas possibilidades de ampliar a distância entre as tentações ameaçadoras e os vulneráveis a elas, os jovens. A vida é quase totalmente fundamentada em responsabilidades morais que buscam harmonizar o convívio social, sendo os estudos (básicos e universitários) na infância e juventude o começo de tudo e os alicerces do futuro, momento de retribuição pelos fatores sociais da maneira como foram encarados esses principiantes compromissos. Da introdução das referidas consciências na mente e no cotidiano dos indivíduos ficam encarregadas primeiramente as famílias, a quem o sucesso nos procedimentos é garantido de acordo com a estrutura moral, merecendo do Estado total supervisão (resultante de investimentos em melhorias sob medida) os casos em que esta apresentar deficiências. Às instituições públicas também sobram deveres próprios além destes cooperativos, buscando estimular as boas relações entre os estudantes e seus compromissos através do aumento na eficácia dos rotineiros reparos e na modernização estruturais; da adequada gratidão financeira e no campo das condições de trabalho dos educadores e demais servidores relacionados ao ramo do ensino; e atentando-se para a criação e a manutenção de recursos que visem deixar os estabelecimentos mais seguros e guardados de fatores humanos e materiais nocivos, atividades que, similarmente às outras atribuições da polícia, clamam pelo enrijecimento dos mecanismos que movem as corregedorias e das leis disciplinares voltadas a seus membros intencionando reforços nas barreiras contra a tomada dessa séria organização por lobos fantasiados de ovelhas.

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