Dos ringues à prisão, em poucas horas

A noite daquele sábado, 19 de abril, foi um marco divisor nas vidas de dois homens que não se conheciam, ambos do interior de São Paulo, embora com grande diferença de idade, bem como de seus respectivos familiares. Uma explosão de fúria sofrida pelo lutador (uma vez campeão nacional) de jiu-jitsu Rafael Martinelli, de 27 anos, procedente de Valparaíso, por causa de uma desavença com a namorada em relação a dúvidas sobre a paternidade de um filho que este espera levou o rapaz de cerca de 2 metros de altura e pesando 140 quilos a perambular pelos corredores do hotel Vale Verde, seu local de hospedagem de onde logo mais partiria rumo a um ginásio onde participaria de uma competição em Campo Grande, nossa capital, investindo contra tudo que havia a sua frente, como portas, câmeras e sensores de segurança, extintores de incêndio, parte do teto e o engenheiro eletricista Paulo César de Oliveira, alojado no estabelecimento também para trabalhos nesse estado às vésperas de completar 50 anos, a quem ele matou wspancado usando como principal arma uma cadeira, mesmo na ausência de qualquer possibilidade de vínculo entre a vítima, os demais participantes e as causas do descontrole.

Estudos apontam beneficios das artes marciais não só no corpo, a exemplo do esperado em qualquer esporte, como também à mente dos praticantes por trabalharem muito sobre as questões de disciplina e controle emocional, embora utilizando-se de exercícios considerados violentos por pessoas insistentes em manter-se agarradas a ideias preconceituosas e mal elaboradas. O sucesso na chegada às metas e o nocaute dessa ignorância dependem da forma como são seguidas as diversas regras que visam proteger o bem estar físico e mental dos adeptos, às quais o desacato é capaz de induzir os esportistas a usarem errada e perigosamente as habilidades adquiridas, surgindo aí barbáries do porte dessa – que não é a primeira – reportada em solo campo-grandense.

O estado em que, segundo a namorada, Rafael se encontrava há um tempo – nervoso, sentindo-se perseguido, falando "coisa com coisa" – previa a classe de encrencas prestes a envolver seu nome e, realidade que ainda assim os responsáveis (sobretudo profissionais) pelo competidor se recusaram a enxergar, não sendo suficientes os claros indícios da distância entre esses comportamentos e as reações de uma mente sadia. Nisso podem estar incluídos os organizadores da luta na qual o atleta participaria, que com grande certeza se horrorizaram ao verem-no após o crime com as mãos sujas de sangue e resistindo às ordens da polícia, que precisou empregar cerca de 10 membros em seu encaminhamento à viatura, em consequência da intensificação das desordens comportamentais notadas com antecedência pelos promotores dos eventos, tanto o esportivo quanto o criminal, o último feito por eles lógico que sem intenção, produto indesejado oriundo do desinteresse por medidas cautelares indicadas nestas situações, dentre elas a mais conveniente seria talvez pedir o retorno para casa do participante e da companheira. Mas um maior empenho na coleta de dados pelos condutores dos processos investigativos, com a cooperação das autoridades paulistas através de uma apuração de como os treinadores de Araçatuba trabalhavam com o lutador e agem no tocante a outros eventualmente assistidos por eles, tem probabilidade de revelar o quanto esse buraco sria verdadeiramente profundo. Há uma chance de salvação para os contratantes campo-grandenses quanto as penalidades aplicadas pelos órgãos estatais, pelas entidades desportivas e pelo povo como um todo, capazes de serem extintas ou aliviadas na constatação de imagináveis descasos dos técnicos, incluindo repasse de informações insuficientes a respeito de Rafael e negligências com sua saúde física e mental, cabendo citar hipóteses como descuidos na proteção da cabeça do competidor contra pancadas frequentes e/ou a falta de medidas em relação ao uso pelo mesmo de medicamentos emagrecedores e antidepressivos, elementos passíveis de terem provocado a desestabilização emocional.

Frente às assustadoras circunstâncias e consequências do crime, apeço à polícia e à Justiça, acompanhado pelo restante da mídia e da sociedade, que considerem o deverdever, cujo descumprimento será uma ofensa a nós que as sustentamos e delas dependemos, de aplicação ao meliante das penas completas (na medida do que for determinado pelas análises de sanidade mental), afastando-se dos maus procedimentos empregados no caso do também lutador marcial Cristiano Luna, hoje confeiteiro após ser presenteado com uma temporada de férias de poucos meses na cadeia em 2011 pelas agressões fatais contra o segurança Jeferson Bruno Escobar, o Brunão, em março do referido ano. Compaixão deve ser direito reservado apenas à família do esportista, impactada talvez na mesma intensidade que a do engenheiro morto com os tumultos adicionados a seu cotidiano. Lamentemos principalmente as condenações morais estipulada à criança concebida por este cidadão e a namorada muitíssimo antes de vir ao mundo por não poder contar (nem tão cedo, possivelmente nunca) com a presença do pai.

Nada mais colaborativo com a prevenção dessas condutas irracionais que o reforço dis rigores da lei sobre os estabelecimentos e educadores que ensinam lutas marciais, sendo levadas a cabo providências como a criação de leis determinando monitoramento da saúde dos alunos com pedidos de exames de sangue, psicológicos etc, e, lógico, devidamente planejadas e conduzidas operações fiscalizadoras para que as normatizações "peguem". Assim teremos maiores garantias de que esses locais estão formando cidadãos mais humanos, capazes de lidar civilizadamente com os desafios da vida moderna e até transmitir essas noções de autocontrole a seus semelhantes.

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