Brincando com quem não brinca em serviço

"Um chamado de emergência não é brincadeira. Pena que muita gente não pensa assim!", dizia uma apresentadora da versão do telejornal MGTV 1° Edição voltada à Zona da Mata mineira antes de uma reportagem com foco na demonstração do estorvo que representam os trotes recebidos pela Defesa Civil e o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) em Juiz de Fora, produzindo mais chuva sobre um terreno insuportavelmente inundado que durante anos aguarda uma trégua, sem estimativas precisas de quando se realizará, mas todas indicando tratar-se de um longínquo futuro, inatingível para nossa geração.

Seres humanos gostam de espelhar suas características nos animais, acontecendo muito isso em nossa cultura popular, não barrando chances de o fenômeno manifestar-se nas diferentes sociedades. Tradição felizmente democrática, acolhedora tanto de atribuições boas – o professor ou a mãe atentos feito corujas, aquele(a) que é bonito (a) igual a um gato – como ruins – embriaguez semelhante à suposta de um gambá, burros com inteligência precária no mesmo nível que várias pessoas, gente infiel insparada nas galinhas e peruas, igual periculosidade de cobras e sogras –, havendo verdades em várias, não em todas. Entre os seres não humanos participantes deste elenco está o cavalo, que tem um de seua modos de andamento no solo, o trote, usado na nomeação de duas atitudes tomadas por certos indivíduos ou grupos que implicam em reflexos a toda sua espécie, os gracejos telefônicos e as recepções nem sempre bondosas de alunos novatos nas universidades.

A injustiça para com os equinos, além da universal característica difamadora das noçōes de respeito aos semelhantes tidas por todos os animais, vindo eles a matar ou ferir sõ na presença de ameaças ou necessidade de se alimentarem, consolida-se pela comparação entre tais condutas "humanas" e um mecanismo locomotivo, e sem utilidades adicionais, dos bichos. Ao se tomar para análise, porém, o exemplo dos trotes via telefone para órgãos públicos prestadores de serviços importantes, como saúde e segurança, caso das entidades juiz-foranas, é possível existir alguma lucidez na nomenclatura deste uso indevido dos canais comunicativos com base no referido tipo de andamento hípico, que consiste na alternância entre a movimentação de patas diagonais (primeiro a frontal direita e a traseira esquerda, ocorrendo posteriormente o contrário, por exemplo), de forma parecida com os alarmes falsos dados intencionalmente por cérebros teimosos em se entreter tratando os recursos humanos e materiais de sérias utilidades como astros de circo, seres tão humanos (?) quanto os alvos das perigosas humilhações que geram com os tumultos nas linhas telefônicas e a vagareza no envio do socorro que são vulneráveis a alternar seus papéis, evoluindo para vítimas (se isso não atingir os inocentes que convivem com o metido a Bozo) de outros troteiros ou da definitiva perda de credibilidade de seus relatos perante os gerenciadores dos sistemas, pois eles armazenam todos os números de telefone que os acionam.

A partir daí é que podem começar os abalos à integridade moral dos adeptos desta diversão inconsequente, dignos por suas causas em função da facilidade que estará tendo com o acesso aos dados a Polícia Civil de Juiz de Fora no monitoramento afirmado após a reportagem por Saed Divan, chefe do 4° Departamento. Não se diferenciando da realidade em outros lugares, é inviável a punição direta dos autores por se tratarem, a maioria, de menores, representados em maior parte por crianças, respondendo, com razão, os pais ou quaisquer responsáveis, na falta destes, por não caírem na real quanto ao papel do disciplinamento dos jovens no uso de telefones, internet e demais meios de comunicação, ao mesmo nível de importância que orientações sobre violência, drogas e sexo, assim como o pwso dos fardos que a sociedade e o Estado carregam por causa das imperícias no costumeiro tratamento a todas essas questões. Adicional fator colaborante para as más condutas é a desconsideração a respeito do fornecimento de qualificação a funcionários como inspetores, zeladores e porteiros que monitoram o comportamento dos que frequentam espaços públicos dotados de orelhões, aparelhos prediletos para esta brincadeira, detalhe cansado de passar em branco aos olhos dos governos.

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