Funcionário de chácara mata criança acidentalmente ao tentar defender propriedade

Na manhã do dia 28 do mês passado, o garoto Paulo Ricardo Simão, de 10 anos, foi encontrado morto com um tiro na cabeça e outros ferimentos pelo corpo em uma chácara próxima a um lixão no Jardim Noroeste, em Campo Grande, aqui no estado. Ao saber da morte do filho, que era portador de deficiência, sua mãe, Luciana de Lima Simão, 27 anos, chegou a sofrer uma parada cardíaca e foi encaminhada a uma unidade de saúde pelo SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Durante a noite anterior a criança e alguns amigos teriam invadido a área rural para apanhar frutas e um porco para a ceia de Natal quando foi atingida por um disparo de espingarda efetuado pelo caseiro Antônio Rosa de Souza, de 59 anos que estava alcoolizado e manejando a arma, emprestada por José Rafael de Melo, 30 anos, frentista de um posto de combustíveis nas proximidades, para espantar os invasores, que teria confundido com usuários de drogas. Ao perceber que um dos tiros havia matado Paulo Ricardo, Antônio teria chamado José Rafael, que havia manipulado o cadáver com os pés, causando as demais lesões encontradas. O caseiro vai responder em liberdade. Populares revoltados chegaram a incendiar sua casa.

Mais uma vez a impunidade vence!! Logicamente o caseiro não tinha interesse em provocar esse desfecho trágico, mas tudo acabou dessa maneira porque ele manuseou a espingarda mesmo estando alterado por causa dos gorós que tomou! Ele certamente percebia as condições em que se encontrava e mesmo assim resolveu usar a arma para afugentar os invasores, contribuindo para esse indesejado e trágico resultado. Essa é mais uma atividade que requer boas condições físicas e psicológicas, assim como a condução de veículos, o manuseio de fogos de artifício e outras. E, ainda por cima, em vez de chamar um serviço de socorro para atender ao garoto baleado, o frentista ficou tratando-o como um trapo ou bola de futebol, o que, assim como a negligência, pode ter aumentado seu sofrimento e colaborando para sua morte, levando muita dor à família, especialmente a mãe, que não teve apenas o emocional impactado.

As autoridades, entretanto não levaram essas situações em consideração e o autor do tiro não terá a pena que realmente vai fazê-lo aprender a lição, assim como pode ter acontecido com o frentista, mas é certo que agora a vida de ambos não será mais a mesma em virtude das consequências do arrependimento e da forma com que serão tratados por pelo menos parte da sociedade devido à sujeira que fizeram. Porém, isso não daria aos autores do incêndio na residência do caseiro o direito de puní-lo desse modo! O homem certamente habitava o local com esposa, filhos e/ou outros parentes, que podem ter corrido riscos e perderam boa parte do patrimônio, tendo que batalhar para reaver tudo, o que levará bastante tempo e não será fácil. Também, nada disso ajuda a recuperar a vida da vítima! Quem "pune" criminosos por conta própria, sem preocupar-se com os resultados que podem se originar de seus atos, acaba até igualando seu caráter ao do meliante!

As crianças não tinham envolvimento com drogas, mas estavam vagando pela chácara num horário em que deveriam estar em casa, sem dúvida devido a descuidos de seus responsáveis, e iriam apanhar um porco, o que com certeza não era permitido. Mas nem por isso elas e suas famílias (principalmente a de Paulo Ricardo) mereciam passar por esse drma que estão enfrentando. Essa atitude indevida do caseiro pode ter se originado de deficiências no trabalho de organizações responsáveis pela manutenção da ordem pública e atendimento a drogados, como as polícias Militar e Civil, Conselho Tutelar e estabelecimentos de atenção a dependentes. Esse e outros casos de pessoas que, cansadas de sofrerem com a violência, resolvem enfrentá-la à sua maneira, atacando bandidos ou até confundindo pessoas conhecidas com marginais, o que resulta nesses trágicos eventos, mostram o quanto a falta de competência para controlar a criminalidade interferem no bem-estar mental e também físico da população.

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